Doutor Ary com a senhora Socorro e neta |
A vida está cheia de
momentos. Não é? Uns bons, outros ruins. Certa vez me perguntei, se eu tivesse
uma máquina do tempo para onde eu iria? Logo me veio uma resposta na cabeça: Eu
viajaria até a Era Mesozóica.
Sim, esta mesma, a marcada
pelo surgimento dos dinossauros e compreende o período entre aproximadamente
250 a 65 milhões de anos atrás, subdividindo-se em três períodos: Triássico
(Plantas/Flores/Aves), Jurássico (Dinossauros) e Cretáceo (Extinção/Meteoro).
Acho fascinante. Gosto de
dinossauros, pois é um tema que me prende. Talvez, ainda pulse dentro de mim a
vontade de criança em ser um Arqueólogo. Mas, se realmente eu tivesse uma
máquina do tempo, apenas iria dar uma “abelhudada” nessas criaturas incríveis
até porque como poderia impedir o choque do meteoro com a terra? Já pensou se
eu fosse um Arqueólogo, onde eu estaria no último dia 23 deste mês? Certamente,
em alguma missão ladeado de pesquisadores sobrando velinhas em cima de um bolo
cheio de mini-dinossauros.
Continuei filosofando com
meus botões: Será que os extraterrestes não são seres-humanos de tempos futuros
que descobriram a máquina do tempo e hoje estão nos visitando no presente que
para eles é o passado? Sei lá, mero devaneio meu. Devo ter bebido vinho demais.
Há tantos mistérios para
serem desvendados e, quiçá, nunca os serão. Então vamos viver o presente e
curti-lo ao lado de quem gosta da gente como somos, com todos nossos erros,
acertos, manias ou pits. Por isso, hoje, revendo minhas ideias vejo que se eu
tivesse uma máquina do tempo e pudesse voltar em algum momento do passado, eu
não mudaria nada, pois tudo aconteceu no tempo certo e quanto as minhas
escolhas, sejam elas certas ou erradas, me fez quem eu sou. Não me arrependo de
nada, inclusive das minhas gentilezas, cuidados ou atenções dispensadas à
pessoas que hoje vejo que não mereciam.
Apenas gostaria de
aproveitar mais convites, de estar presente em mais lugares e ouvir mais
pessoas. Esta semana, estava quieto no meu canto na frente da delegacia quando
de longe, embora não enxergando nitidamente, vi aquela senhora se aproximando e
apressando o passo antes que eu entrasse no prédio. Percebi um aceno e um
sorriso, mesmo não
enxergando direito, notei que a conhecia.
- Doutor Ari. Me dê um
abraço, quanto tempo!
Falava Dona Socorro.
- É verdade Dona Socorro.
Quanto tempo! Quando a Senhora chegou de Santarém?
Perguntei. VEJA A MATÉRIA COMPLETA CLICANDO ABAIXO.
- Hoje. Vai lá em casa tomar
um café, conversar comigo.
Na mesma hora prometi:
- Vou.
Ela:
- Vai mesmo?
Eu:
- Vou Dona Socorro.
Ela:
- Ei, melhor. Vamos sábado
para lote rural? A gente almoça lá e voltamos de tarde. Vamos? Não aceito não
como resposta, só estou de passagem.
Eu não tinha como recusar
esse convite, fui para lote de Dona Mirian. Falar de Dona Socorro é voltar no
tempo e encontrar momentos memoráveis, sem que haja necessidade de uma máquina.
Dona Socorro me acompanhou desde o dia que cheguei ao município de Rurópolis e
viu de perto todo meu crescimento emocional, pessoal e profissional. Ela sempre
torceu por mim e vejo que até hoje ainda torce. Dona Socorro uma mulher de riso
frouxo, de abraço forte e de uma história de superação incrível. Aceitei o
convite e fui passar o sábado na sua companhia e de seus familiares. Nossa, foi
um rio de memórias.
- Ei, sossega homem. Deixa o
“Louro”, vem descansar. Vou já mandar colocar uma rede para você se deitar.
Ela falava.
Eu:
- Não quero.
Ela:
- Por que já?
Respondi:
- Manha.
Ela caiu na gargalhada.
- Já esta armada a rede vem
deitar, enquanto terminamos o almoço.
Me embalando naquela rede
fui conversando com ela e quando me vi estava numa máquina do tempo. Diante de
uma história emocionante, nascia a crônica da semana.
- Papel, papel, caneta,
caneta, rápido.
Eu pedia.
- Para quê homem?
Ela espantada me perguntava.
- Vou escrever um pouco
sobre a senhora. Posso?
E ela fez um silêncio,
olhou-me profundamente e disse:
- Não quero.
Eu:
- Já era, já estão prontos
os rabiscos.
Ela:
- Tá bom, mas doutor para
quê estas fotos? Estou toda desarrumada.
- É assim mesmo. Eu também
estou e nem posso sorrir, não lhe falei que quebrei um dente comendo churrasco
no dia do meu aniversário? Depois a senhora me mande uma foto sua produzida
para capa, mas para o desenrolar do enredo serão essas mesmas.
E no vai e vem da conversa,
me embalando na rede, eu pude saber um pouco mais sobre Dona Socorro.
- Dona Socorro, muito
obrigado por me trazer aqui. Como é mesmo o nome dessa comunidade?
Pacientemente ela me
respondeu:
- Comunidade Estrela do
Norte, mais conhecida como Piçarreira, km 189.
Eu:
- Dona Socorro, quais os
momentos mais marcantes de sua vida?
Ela:
- Bons e tristes?
Eu:
- Sim. Fique a vontade.
Ela então me contou com um
sorriso no rosto:
- Um dia que eu considero
feliz, foi quando comecei trabalhar na Escola Eurico Vale no ano de 1980. Fui
contratada pela Seduc como Agente de Portaria.
Nas minhas “abelhudices”,
perguntei:
- O que é Agente de
Portaria?
Ela meio brava respondeu:
- Não sei, mas eu era.
Pronto. E me deixa continuar minha história. Pois é, então, eu naquela escola
fui muito feliz, trabalhei por 32 anos até ser aposentada. Quanto ao meu
momento mais triste, ocorreu no ano de 2010, quando Durval faleceu. Depois
passei por uma série de problemas de saúde e quando foi diagnosticado o câncer
de mama, logo me submeti a um tratamento médico por 02 anos.
Eu estava ali e senti a
emoção naqueles relatos, tentamos interromper que ela continuasse os relatos de
vida, mas Dona Socorro respirou
profundamente e seguiu em frente:
- Se é para falar, deixa eu
continuar. Durval foi pescador, pintor e trabalhou numa Olaria. Chegamos em
1971 em Rurópolis. Ele era funcionário do Incra, trabalhava como Artífice, foi
designado para trabalhar na abertura da estrada da Transamazônica assim como
muitos. Sabe doutor, andamos por vários municípios: Anapu, Altamira, Brasil
Novo, Medicilândia, Placas até chegarmos em Rurópolis.
De repente fui cortado:
- Tá bom chega! Já contei
muito. Vamos almoçar.
Eu:
- Somente uma última
pergunta, o que é um Artífice?
Ela colocando a mão na
cintura:
- Já disse chega. Não conto
mais nada. Já reviramos muito o passado. A comida está na mesa. Tem feijão
doutor coma logo com seu pirão, eu lembro que o senhor gosta.
Falei:
- Verdade Dona Socorro.
E haja 0800 |
As histórias nos fez entrar
numa máquina do Tempo por alguns instantes. Minha amiga não quis mais me falar
nada, apenas rir de mim, rir comigo, rir de nós. Fui buscar o significado da
palavra “Artífice”: Artesão ou Operário especializado em qualquer arte
mecânica.
Ela:
- Guarde essa caneta. Alguém
tire essa caneta deste menino, é um perigo. Tá bom Dr. Ari me deixa comer
sossegada.
Após várias fotos a deixei.
Depois de um tempo, fiquei quieto me embalando no meu canto, mas me divertindo
com aquela a conversa de “comadres”. Ela contando para dona Rosa Veríssimo:
- Bom mesmo é criar
galinhas. Galinha nanica, galinha de pescoço pelado, galinha “arrupiada”.
Eu tive que me intrometer:
- As outras eu entendi, mas
como é uma galinha nanica?
Ela:
- Já está escutando nossa
conversa homem. Vem aqui deixa eu te mostrar. Tá aqui uma galinha nanica, essa
com as pernas pequenas, quase nada.
Eu:
- Hummm.
Ela:
- Que hum nada.
E me enfiou um pudim de
abóbora na boca.
O vento me chamava para ver
aquelas folhas ao vento, era um convite a uma oração. Assim, este foi outro
momento que remexeu a caixa de ferramentas de minha memória, ao ver na parede
da casa um calendário daqueles que arrancamos as folhas diariamente. Aquele com
mensagens bíblicas. Minha finada avó Santarena possuía um desse pendurado na
parede do seu quarto e todos os dias ela lia aquela oração daquela folinha e
depois arrancava.
Tive um dia maravilhoso, cercado de pessoas de
sorriso frouxo e coração fraterno. Sorri muito, mesmo estando desdentado, como
uma criança, e também me deixei emocionar revirando o baú da memória de Dona
Socorro. Ah, até as músicas de Wanderley Andrade ouvi. E, o dia terminou com
uma caldeirada de peixe feita por Jurandir e com um belo Arco-Iris nos
acompanhando pela estrada no caminho de volta.
Ao final de tudo, lembrei-me
um grande mestre e hoje amigo chamado Benilton Cruz que, em uma das suas
magníficas aulas de Literatura Brasileira, apresentou a turma a expressão em
latim “CARPE DIEM”, de um poema de Horácio, popularmente traduzida como “COLHA O DIA OU APROVEITE O MOMENTO”. Também
é utilizada como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com
coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do
futuro.
A importância da expressão
ficou mais clara quando fomos presenteados com uma sessão no auditório do
filme "A Sociedade dos Poetas
Mortos", O personagem de Robin Williams, Professor Keating, utiliza-a assim:
"Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurrar o seu
legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? - Carpe - ouve? - Carpe,
carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas."
Na cena o Prof. Keating está em frente a uma galeria de fotos de ex-alunos da
tradicional escola Welton e ele pede aos novos alunos que se aproximem da
galeria para ouvirem o espírito de seus predecessores a dizer: "carpe
diem".
Daí me interessei pelo Carpe
Diem e fui a procura de suas expressões na arte, na literatura e na música. A
banda Metallica, no seu lançamento de 1997, "Reload", apresentou uma
música "Carpe Diem Baby", que encoraja o ouvinte a "espremer e
chupar o dia" (come squeeze and suck the day / Come Carpe Diem Baby), já
no Brasil a banda brasileira Catedral possui uma música com o título Carpe Diem
e as bandas brasileiras Cueio Limão e a
Fresno também possuem uma música intitulada Carpe Diem. O músico português
Rodrigo Leão compôs uma melodia de nome Carpe Diem.
Foi o que aquele generoso
Convite vindo do Coração de Dona Socorro me proporcionou: MOMENTOS ÚNICOS
CHEIOS DE CARPE DIEM.
- É! Eu também só estou de
passagem como os dinossauros. Nunca saberemos quando e como partiremos, seja
por causa de um impacto de um meteoro na terra ou às vezes, involuntariamente,
por causa da “Rebimboca da parafuseta” que nos faz deparar diante de um
penhasco, somente nos restando fechar os olhos e dizer: “Seja feita a Vossa
Vontade”.
Dona Maria do Socorro
Rodrigues Vaz, obrigado por isso, pelo afeto, pelo carinho e consideração. Não
me esqueço de quem me estendeu a mão. Minha memória não é curta, apesar de eu
esquecer nomes, jamais deixo passar batido o que fazem por mim, principalmente,
coisas boas. Que Deus lhe abençoe sempre e continue iluminando este imenso
sorriso, mesmo diante das adversidades da vida.
E finalizando:
Entre o real e o imaginário,
entre a verdade e a fantasia aqui contada, o que nem eu já sei mais, encerro a
crônica da semana. Um beijo à todos, fiquem com Deus e até semana que vem.
Ariosnaldo da Silva Vital Filho.
Porém, “escute, está
ouvindo? - Carpe - ouve? - Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem
extraordinárias as suas vidas” (Sociedade dos Poetas Mortos).
Benilton, um forte abraço
fraterno, quando eu crescer quero ser um escritor igual a ti. Foi uma honra tê-lo como professor, CARPE
DIEM e vida longa a ti poeta.
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