|
Laci Sost - "A senhora do cupuaçu" |
|
DPV Ary Vital com a senhora Laci Sost |
Vou começar a história da
semana exatamente como ela sempre se inicia já há anos, com um simples “Oi”.
- Oi.
- Oi, como vai a Senhora?
Perguntei.
- Bem, obrigada. Trouxe
cupuaçu para o senhor.
E quando percebi vi aquela
simpática senhora tirando a fruta, enrolada em panos, da garupa da sua
bicicleta e me entregando, em mãos, com um leve sorriso que escapava
timidamente do seu rosto.
- Muito obrigado.
Agradeci.
E logo após me entregar o
cupuaçu, ela imediatamente partia em sua bicicleta. Laconicamente, às vezes,
sem dizer um “até”, mas aquele sorriso era sincero e sinalizava sempre o
contrário. E esta história se repete há sete anos. Às vezes, quando chegava
encontrava saco com vários cupuaçus, gentilmente, destinados a mim e mesmo já
sabendo a resposta, perguntava quem teria deixado e a resposta sempre era a
mesma: “Foi à senhora do cupuaçu”.
Isso vem da infância e
muitas vezes se estende até o fim de nossas vidas, pois quem nunca identificou alguém
assim: O homem da farmácia, a mulher do supermercado, o garoto do amendoim, o
homem do milho, o rapaz da rodoviária, a mulher do Banco, o homem do gás, a
mulher da tapioca, o cara da festa, o senhor da pipoca, a mulher do vatapá, o
vigia do hospital, etc. Atribuir o gênero masculino ou feminino a um objeto, a
um lugar, a um local ou a uma função é um hábito que a gente tem quando não
sabemos o nome da pessoa, porém, só falar tais referências, vem na nossa mente
exatamente quem é a pessoa com todas suas características.
Pois é. Esta semana, com um
simples “oi”, mais uma vez a história se repetiu:
- Oi.
Ela chegou laconicamente me
cumprimentando, estacionando sua bicicletinha debaixo do jambeiro.
- Oi.
Respondi.
- Trouxe dois cupuaçus para
o senhor.
Ela sorrindo timidamente,
pegou as frutas na garupa da bicicleta e me entregou.
- Obrigado Dona Laci Sost.
Agradeci.
E ela abriu um sorriso.
- Não esqueci seu nome.
Lembra de que eu lhe encontrei na procissão da Sexta da Paixão de Cristo e a
senhora me falou seu nome?
Carregando o “r” da palavra,
ela me respondeu ainda que laconicamente:
- Verdade
- Espere. Não vá.
Pedi.
- Preciso ir, estou num
ensaio para festa junina. Me aguardam.
Respondi:
- Tudo bem. Posso tirar uma
foto do seu lado? Posso contar essa história?
Positivamente ela acenou com
a cabeça. Depois disso, eu a deixei ir, sem mais perguntas, apenas agradecido
por mais um gesto de gentileza. Sinceramente, ela estava muito mais preocupada
com o seu gesto do que com a palavra.
E mais uma vez ela se foi,
pedalando pelas ruas de Rurópolis, deixando o local, laconicamente, sem dizer
um “até”, mas aquele sorriso era sincero e sinalizava sempre o contrário.
Pois é... Esta crônica foi
tão rápida quanto ao momento vivido. Aliás, Momentos, a vida está cheia deles.
Enfim, a história acabou com gosto de quero mais, com sabor de cupuaçu.
E como reza um trecho de uma
canção, que gosto muito: “Fica sempre um pouco de perfume, nas mãos que
oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas”. Dona Laci, esta é muita
homenagem à senhora, que desde 2008 me presenteia com cupuaçu. Obrigado!
Ah, antes que os curiosos
perguntem o que fiz com o cupuaçu, eu respondo: Tomei o suco misturado com
vinho.
Entre o real e o imaginário,
entre a verdade e a fantasia aqui contada, o que nem eu já sei mais, encerro a
crônica da semana. Um beijo a todos, fiquem com Deus e até semana que vem.
Ariosnaldo da Silva Vital Filho.
NOTA
DO AUTOR:
Hoje um aluno de uma escola
local me procurou informando que estava fazendo interpretação de texto de uma
das minhas crônicas semanais, esta intitulada “O Roteiro da Vida”. Explodi de
alegria. Percebo que elas tem mexido com imaginário das pessoas, inclusive
soube que as histórias vão até ser encenadas em algumas escolas. Legal. Peço
perdão por alguns erros gramaticais, uns de propósito outros involuntários,
estes últimos já estão sendo revistos para a publicação do livro. Abraçaço.