Tiago, Dr. Ary e Lula |
O que cabe dentro de um
abraço? Sempre que abraço alguém, procuro sentir o que realmente existe ali. Se
ele foi apenas dado por educação ou se o foi por carinho. São raras as pessoas
que me oferecem um abraço de amigo, daqueles do tipo que um segura o outro
quase tropeçando como se fossemos cair a qualquer hora. E se cairmos tudo bem,
pois não daremos a mínima importância, somente risadas. Gosto de abraços,
muitos, mas hoje estou muito mais seletivo até mesmo com aperto de mãos. Há um
pensamento muito constante em mim de Martha Medeiros, jornalista e escritora
brasileira que diz o seguinte: “Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um
abraço se dissolve”.
E a história começou assim,
meio tímida, silenciosa, com um abraço:
- Meu filho vem aqui falar
com o delegado.
Gritou Celso Luiz Roque,
popular Lula
- Oi, doutor.
E foi logo me dando um
abraço com a mais pura sinceridade.
- Oi. Tudo bem?
- Eu estou bem.
- Que bom.
E lula disse:
- Meu filho converse com o
delegado.
E eu disse:
- É, converse comigo. Eu já
te conheço vejo sempre você andando e bicicleta.
E ele:
- Verdade. Gosto de andar de
bicicleta.
- Legal.
Até então ele não tinha me
falado o nome dele e eu resolvi chamá-lo de Maurício. Tenho esta doce mania de
chamar a pessoa por qualquer nome que me vem à cabeça quando ela não se
identifica.
- Maurício o que você gosta
de fazer?
Ele disse com todas as
forças e levantando o dedo para cima.
- Êpa, senhor, doutor
delegado, eu sou Tiago.
- Tiago?
- Sim. Sou eu, Tiago Juliano
Napivoski Roque, este é meu nome.
- Prazer Tiago, somente não
sabia o seu nome. Nome muito bonito, acho o máximo prenomes compostos. Como
falei me lembro de você andando e bicicleta. Também me recordo uma vez que você
me levou um convite da noite cultural da sua escola.
Ele disse:
- É verdade doutor, o senhor
lembra disse.
- Claro que lembro, mas te
confesso que minha memória é péssima para guardar nomes de pessoas. Terrível,
imagine o quanto sofri para memorizar o meu.
Ele:
- Ariosvaldo.
Eu:
- Êpa, senhor, doutor, eu sou Ariosnaldo da
Silva Vital Filho, este é meu nome.
Ele rindo:
- Prazer Ariosnaldo, somente
não sabia o seu nome. Nome muito bonito.
E eu caí na gargalhada e
Tiago com uma feição séria me disse:
- Eu gosto de ser Tiago.
Ti-a-go.
E eu falei:
- E eu Ariosnaldo.
E isto me fez pensar e até
me auto-interrogar. Eu gosto de ser quem eu sou? E me fiz uma releitura sobre
tudo que passei e enfrentei em meu cotidiano. Lembrei-me dos meus erros e
acertos, das alegrias e tristezas, retrocessos e crescimentos, escolhas e
renuncias. Sempre haverá um momento em que iremos nos questionar de que forma
estamos passando pela vida do nosso semelhante e como eles estão passando pela
nossa. E no balanço final, devemos analisar o que nós deixamos e o que ficou. O
que deixaram e o que ficou em nós. Depois destas memórias e questionamentos,
sem dúvida ergui minha taça de vinho e fiz um brinde a mim.
Vamos celebrar nossa própria
maneira de ser, erguendo nossas taças e relendo nossas histórias.
- Ei, Lula o Tiago me deu
uma lição de vida. Posso contar a história dele na crônica?
- Sim. Tiago vem aqui para
foto comigo e com o delegado.
- Pô Lula, sério! Tá no
cutuque. O que é isso? Essa foto não vai sair legal. Pô Lula, tá no cutuque, tá
no cutuque, tá no cutuque. Que coisa!
Até que saiu a foto, não tão
comportada. Tiago me chamou e disse:
- Venha cá doutor, vou
escrever meu nome no papel para o senhor nunca mais esquecer.
E em cima de uma caixa de
isopor improvisado como mesa, o rapaz escreveu
o seu nome e no final me entregou seguido de um abraço fraterno.
A vida me mostrou que nos
abraços sinceros, sejam eles dados nos momentos de chegada ou de partida, não
cabem somente educação, mas também respeito, polidez, carinho, afeto, saudade,
amor.
Como já bem poetizou Clarice
Lispector: “Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e agora
sono” e como sou. E você já abraçou alguém hoje? Já ergueu sua taça?
E finalizando:
Entre o real e o imaginário,
entre abraços sinceros, a verdade e a
fantasia aqui contada, o que nem eu já sei mais, encerro a crônica da semana.
Um abraçaço à todos, fiquem com Deus e até semana que vem. Ariosnaldo da Silva
Vital Filho.
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