sexta-feira, 28 de agosto de 2015

CRÔNICA DA SEMANA: DENTRO DE UM ABRAÇO

Tiago, Dr. Ary e Lula
O que cabe dentro de um abraço? Sempre que abraço alguém, procuro sentir o que realmente existe ali. Se ele foi apenas dado por educação ou se o foi por carinho. São raras as pessoas que me oferecem um abraço de amigo, daqueles do tipo que um segura o outro quase tropeçando como se fossemos cair a qualquer hora. E se cairmos tudo bem, pois não daremos a mínima importância, somente risadas. Gosto de abraços, muitos, mas hoje estou muito mais seletivo até mesmo com aperto de mãos. Há um pensamento muito constante em mim de Martha Medeiros, jornalista e escritora brasileira que diz o seguinte: “Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve”.

E a história começou assim, meio tímida, silenciosa, com um abraço:

- Meu filho vem aqui falar com o delegado.

Gritou Celso Luiz Roque, popular Lula

- Oi, doutor.

E foi logo me dando um abraço com a mais pura sinceridade.

- Oi. Tudo bem?

- Eu estou bem.

- Que bom.

E lula disse:

- Meu filho converse com o delegado.


E eu disse:

- É, converse comigo. Eu já te conheço vejo sempre você andando e bicicleta.

E ele:

- Verdade. Gosto de andar de bicicleta.

- Legal.

Até então ele não tinha me falado o nome dele e eu resolvi chamá-lo de Maurício. Tenho esta doce mania de chamar a pessoa por qualquer nome que me vem à cabeça quando ela não se identifica.

- Maurício o que você gosta de fazer?

Ele disse com todas as forças e levantando o dedo para cima.

- Êpa, senhor, doutor delegado, eu sou Tiago.

- Tiago?

- Sim. Sou eu, Tiago Juliano Napivoski Roque, este é meu nome.

- Prazer Tiago, somente não sabia o seu nome. Nome muito bonito, acho o máximo prenomes compostos. Como falei me lembro de você andando e bicicleta. Também me recordo uma vez que você me levou um convite da noite cultural da sua escola.


Ele disse:

- É verdade doutor, o senhor lembra disse.

- Claro que lembro, mas te confesso que minha memória é péssima para guardar nomes de pessoas. Terrível, imagine o quanto sofri para memorizar o meu.

Ele:

- Ariosvaldo.

Eu:

 - Êpa, senhor, doutor, eu sou Ariosnaldo da Silva Vital Filho, este é meu nome.

Ele rindo:

- Prazer Ariosnaldo, somente não sabia o seu nome. Nome muito bonito.

E eu caí na gargalhada e Tiago com uma feição séria me disse:

- Eu gosto de ser Tiago. Ti-a-go.

E eu falei:

- E eu Ariosnaldo.                                   

E isto me fez pensar e até me auto-interrogar. Eu gosto de ser quem eu sou? E me fiz uma releitura sobre tudo que passei e enfrentei em meu cotidiano. Lembrei-me dos meus erros e acertos, das alegrias e tristezas, retrocessos e crescimentos, escolhas e renuncias. Sempre haverá um momento em que iremos nos questionar de que forma estamos passando pela vida do nosso semelhante e como eles estão passando pela nossa. E no balanço final, devemos analisar o que nós deixamos e o que ficou. O que deixaram e o que ficou em nós. Depois destas memórias e questionamentos, sem dúvida ergui minha taça de vinho e fiz um brinde a mim. 

Vamos celebrar nossa própria maneira de ser, erguendo nossas taças e relendo nossas histórias.

- Ei, Lula o Tiago me deu uma lição de vida. Posso contar a história dele na crônica?

- Sim. Tiago vem aqui para foto comigo e com o delegado.

- Pô Lula, sério! Tá no cutuque. O que é isso? Essa foto não vai sair legal. Pô Lula, tá no cutuque, tá no cutuque, tá no cutuque. Que coisa!

Até que saiu a foto, não tão comportada. Tiago me chamou e disse:

- Venha cá doutor, vou escrever meu nome no papel para o senhor nunca mais esquecer.

E em cima de uma caixa de isopor improvisado como mesa, o rapaz escreveu  o seu nome e no final me entregou seguido de um abraço fraterno.

A vida me mostrou que nos abraços sinceros, sejam eles dados nos momentos de chegada ou de partida, não cabem somente educação, mas também respeito, polidez, carinho, afeto, saudade, amor.

Como já bem poetizou Clarice Lispector: “Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e agora sono” e como sou. E você já abraçou alguém hoje? Já ergueu sua taça?

E finalizando:


Entre o real e o imaginário, entre abraços sinceros,  a verdade e a fantasia aqui contada, o que nem eu já sei mais, encerro a crônica da semana. Um abraçaço à todos, fiquem com Deus e até semana que vem. Ariosnaldo da Silva Vital Filho.

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