DPC Ary no hospital |
Era uma terça-feira comum,
dia 28.04.2015, nada de especial, tudo muito ordinário e sem significado algum
para mim. O sol e a hora já me chamavam para ir ao trabalho. Tudo numa boa.
Depois do primeiro tempo, chegou a hora do almoço e sem alteração.
Intervalo... Até que por
volta das 13hs começou uma fina dor de cabeça que foi me tomando aos poucos. Eu
disse a mim: “mais uma dor de cabeça, talvez seja cansaço”, então, fui dormir,
meio dormindo, meio desperto, não sei ao certo, me espantei com o que vi com
minha visão míope.
- Vô?
Ele não me respondeu, mas o
reconheci de cara, como poderia esquecer aquele belo homem com um sorriso
ofuscante e encantador como ouro? Certamente o que deve ter encantado minha
avó. Meu amado avô Ranulfo Vital, o pai do meu pai se fazia presente em minha
frente. Fechei os olhos, um frio de me arrepiar os ossos e de me retorcer na
cama. “Tô sonhando”, pensei.
- Vô?
Ouvi ele me chamar novamente
e de repente o vi num barco, segurando firmemente o timão. “Tô fora”, acordei.
O barco já tinha partido. Meus pés estavam frios, meu corpo tremia e a dor de
cabeça era insuportável. Os olhos estavam vermelhos e via tudo muito embaçado,
foi quando me dei conta que estava com febre. “Égua, tu é doido é? Vou vazar
daqui, não to nada bem” e parti para o hospital.
No caminho, ligo do celular:
- Bom tarde, Paula Barbosa
me socorre.
Sempre prestativa, ela me
disse:
- Diga meu amigo, em que
posso ajudá-lo?
- Tô com dores infernais de
cabeça, por favor, fale com alguém do hospital que preciso ser examinado e
medicado. Não sei o que tenho, mas to delirando até meu falecido avô eu o vi
puxando meu pé.
- Doutor, pode ir lá que vou
ligar para lhe atenderem.
- Obrigado.
(((Pronto atendimento)))
-
Doutor Ari vamos verificar a pressão. Nossa, está alta e o senhor está muito
quente. Vamos verificar a temperatura.
E minutos depois veio o
anúncio:
- 37 graus.
E daí assinei minha internação,
passei três dias, sob cuidados médicos. Na primeira noite delirei. Febre
terrível. Sonhei que um pescador encontrava uma garrafa mágica ao jogar sua
rede de pescar no rio. Ao esfregar, um gênio aprisionado há mais de mil anos,
saiu e por estar com raiva, por ter passado todo aquele tempo preso resolveu aprisionar
o pescador, contudo, de forma astuta, antes de ser aprisionado, ele desafiou o
gênio do mal, dizendo que não acreditava que conseguiria entrar novamente naquele
recipiente tão pequeno. O boboca do gênio, odiando ser desafiado, quis provar o
contrário e entrou na garrafa. O pescador tampou e jogou no rio de volta,
benzeu-se e foi embora com o fumo na boca.
Quando acordei na madrugada,
fiquei pensando nesta versão da história. Prefiro aquela outra que o gênio é
libertado e concede três pedidos.
No outro dia, graças às
medicações estava bem melhor, porém, ainda debilitado. Triste, pois, logo eu
que sou tão ativo, tão Vital, não queria estar acamado, preso como o gênio na
garrafa, esperando ser libertado, mas, como um passe de mágica, as pessoas foram
chegando, me abraçando, apertando minha mão, desejando melhoras, estimas e
renovando laços de amizade. Perguntei como souberam, me disseram que estava no
blog da cidade e uma amiga tinha me visitado durante meu sono tirando uma
fotografia postando no facebook. Tive que fazer uma nota de agradecimento a
todas as manifestações de carinho e de amor. Como um bom leonino, regido pelo
sol, me senti sem dúvida envaidecido. Foram mais de cem curtidas e vários
comentários. Tem como não amar Rurópolis? Tem como não amar estas pessoas? Sob
o céu de Rurópolis, a cidade falou comigo por meio de mensagens via SMS,
Whatszap, e-mail, pela internet ou se fizeram presentes ali ladeando minha cama.
Entre causos e risos, elas não deixaram o bom humor e o alto astral me abandonassem
naquele momento.
- Doutor Ari, o senhor está
doente? Pensei que delegado não ficasse doente.
Falou Fogoió.
- Pois é.
Eu concordei.
- Ei doutor, o senhor é o
único que não pode fugir daqui.
Rindo me falou Fogoió.
E chegou minha adorável Hilda:
- Doutorzinho do meu
coração, o que houve?
Com aquele batom vermelho me
marcou de beijos e providenciou água de coco, chá de camomila, torrada e muitas
histórias cabeludas, impróprias para o horário. E eram tantas fotografias e
selfies ora permitidos, ora roubados, mas depois que inventaram as redes
sociais não se fala mais em invasão de privacidade e sim evasão de privacidade.
Tudo estava valendo.
- Ei, o Senhor achava que eu
não vinha lhe ver meu amado? Trouxe chá, sei que você gosta.
Rindo me falou Tereza.
De repente, quando viu, fugi
de um quarto para outro. Encontrei o pai da dona Quinha com as filhas. Ele
também estava doente.
- Tudo bem senhor? Bora
fugir?
Eu maldosamente fiz a
proposta para aquele senhor e ele aceitou, queria ir embora. Como duas crianças
travessas nos identificamos de cara e ficamos amigos, mas acabei sendo
convidado gentilmente, pelas filhas da dona Quinha, para me retirar do quarto
dele. Traduzindo: fui expulso mesmo. E ao voltar para o quarto encontrei Dona
Terezinha Faleiro.
- Doutor, onde o senhor
estava? Vim lhe visitar, também estou com minha mãe enferma.
- Bem Dona Terezinha.
Ela ficou por horas ali me
fazendo companhia. Aliás, foram tantas visitas, dentre elas meu querido Pedro
Buaz, Poliana, Rozimar (Rosa), Euza, Genilda, Fogoió, Chiquinho, Alberi e
tantos outros tão especiais quantos. Além das mensagens preocupadas de
Jackeline e Queiroz.
Fiquei feliz de ver ali
também na visita, a presença dos investigadores Hércules e Sérgio. Não estava
só, não se esqueceram de mim, em nenhum momento, até o escrivão Bibiano veio me
ver, aliás, cometer garfes de esquecimento não é com a gente, apesar de que eu
também sei anotar coisas no livro do esquecimento, de capa azul, ano 2015, que
guardo comigo, mas este eu somente uso quando necessário. Quando não, engarrafo
a desgraça igual como o pescador fez com o gênio e jogo de volta no rio. Ou foi
o próprio gênio que se engarrafou?
- Doutor, levanta logo daí.
Me falou Raeudson.
- Que nada, ele está é
gostando.
Disse Geovana.
- Não nego que estava
envaidecido, porque senti o carinho e a solidariedade da cidade. Meu carisma
foi novamente colocado à prova, no paredão, tal como aquela notícia caluniosa
de arbitrariedade que circulou por aí, que nunca cometi e demais encenações do
tipo novela mexicana de quinta categoria, com péssimos atores e atrizes,
tentando sujar a minha imagem. Pergunto igual o comercial dos 50 anos da Globo:
“O que vem depois de Avenidas, Selvas, Reinos, Impérios e vidas?” Só sei que
ainda olho de cabeça erguida e consciente de todos os meus atos. Uma frase que
me marcou muito no hospital foi o que Alberi me disse: “Doutor fique bom logo,
a gente precisa de pessoas boas”. Tal frase mexeu e remexeu tanto com meu
emocional que senti uma sensação de dever cumprido e ao mesmo tempo, vejo que
ainda me encontro no caminho certo, o do bem.
E assim se foi por três
dias, entre pílulas de paracetamol, de antibióticos, injeções, agulhas, veias,
soros vitaminados, exames de sangue, raio-x, urina, etc. Com todos estes
cuidados tive que sarar. Obrigado a Dra., Glaucia, obrigado Joerta e todo o
corpo técnico.
Foram tantos, seja na vida
presencial quanto na virtual, que sacudiram a garrafa mágica, porque tinham a
certeza que ali havia um gênio do bem e fizeram seus pedidos que não teve outro
jeito, tive que ficar bom rapidamente. E só olhar o que meu nobre amigo, Dr.
Roberto Brilhante comentou lá no Facebook.
Assim que sai do Hospital,
passei direto para delegacia para fechar o mês com chave de ouro, juntamente,
com a Polícia Rodoviária Federal, com os IPCs e EPC Ronivaldo Colares lavramos
um procedimento, onde foram apreendidos 2,1 kg de substância pastosa e
granulada com cheiro característico de cocaína. Foi cansativo, mas prefiro mil
vezes estar trabalhando do que ficar doente acamado. Jamais vou passar o dia 1º
de Maio adoentado.
Égua, nestes três dias, parecia
que era eu quem estava preso na garrafa mágica, esperando a libertação. Bom
mesmo é retornar a nossa vida cotidiana, bom mesmo é retornar a nossa rotina,
bom mesmo é estar com saúde, melhor ainda é saber que a gente tem tudo isso ao
lado de pessoas extraordinárias. A essas pessoas dizer obrigado é pouco, muito
obrigado ainda é pouco, muitíssimo obrigado também é pouco, mesmo assim meu
sincero obrigado. Foram tantos afagos e carinhos nos meus cabelos que acabaram
me deixando com topete igual do Luan Santana. Ah, agradeço também a preocupação
do meu amigo Dr. Tudor que se prontificou a cuidar de mim, demonstrou um laço
de amizade para comigo que não se rompeu com a distância e nem com o tempo.
Ah, a história não terminou,
fui sentir a noite, o cheiro de liberdade, ouvindo uma boa música e tomando um
caldo no Coreto da Ivete e ali encontrei, de novo, o incansável seu Chiquinho,
a quem contei tudo isso. Também, a noite me presenteou com um sorriso
encantador, quase hipnótico, encontrado na Padaria Nova União, por acaso, de
repente, de uma mulher linda. O gênio da garrafa caprichou, tanto é que não
teve jeito, o meu feriado se iniciou ladeado de beleza, sorriso simpatia e
ternura tão provocante e perturbadora quanto sua Dona.
E a manhã foi assim leve, abençoado
pela natureza, cheio de beleza e selfies com muitas caras e bocas ao lado de
Sirlane Gomes e Dayse Nayara, esta última uma vendedora de sorrisos. Nossa! E
como eu sempre falo entre o real e o imaginário, entre a verdade e a
fantasia aqui contada, o que nem eu já mais sei, também não faço questão de
saber, encerro a crônica da semana. Um beijo à todos, fiquem com Deus e até
semana que vem.
Em tempo: Desejo em oração a
restauração da saúde de todos aqueles que ainda estão enfermos, passando por
momentos delicados. Como diz o trecho de uma canção: “Segura na mão de Deus e
não olhe para trás, Segura na mão de Deus e vai”. Obrigado Rurópolis. Pai, Mãe
desculpa não ter falado nada.
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