The Road so far... (A estrada tão longe...) |
Itaituba, Monday 5:30 PM.
Acabou a reunião. Eu olhava à hora no meu relógio.
- Será que ainda há tempo
para pegarmos a balsa?
- Claro doutor.
Falou o investigador
Hércules.
- Então vamos! Mas, será que
não ficaremos no meio do caminho? Num atoleiro? A estrada está de amargar.
- Vamos.
Respondeu-me Hércules.
- É?
Perguntei meio preocupado,
mas sabia que o motorista era bom e já sentia no ar um cheiro de “aventura”,
aliás, não era a primeira vez que passávamos por isso.
Itaituba, 6:00 PM. Aliviado,
conseguimos alcançar a balsa.
Pausa: Quero deixar claro
que um dos meus defeitos ou virtudes é ser bastante teimoso, pois, não faltaram
convites e acolhidas para dormir no município de Itaituba, mas, nunca larguei
esta minha mania de “cachorro velho” em passar o dia inteiro na rua e no final
querer voltar para dormir em casa.
- Que bom, chegamos a
Miritituba.
Falei.
DPC Celso, DPV Ary e Katiane |
- Agora é cortar chão.
Disse Hércules.
Gosto desta expressão
utilizada pelo investigador. Intimamente, quando a escuto, o meu instinto já se
prepara para o trajeto cansativo e perigoso, porém, sabe-se e se conforta que
será uma longa viagem, um longo papo, uma troca de idéias, de contos, “causos”
e casos de polícia para serem compartilhados, além de momentos tensos, em razão
das adversidades e surpresas que podem aparecer na estrada. Quanto à lama, eu
já nem me espanto mais, afinal são sete anos, sete temporadas, sete vidas nessa
correria.
- Segura doutor, o trecho
está liso.
Passamos.
IPC Hércules |
- Olha lá, Hércules!
Caminhões, muitos caminhões, fileiras de caminhões e muitas cuias de
chimarrões.
Passamos. E o bacana, que
ainda éramos cumprimentados pelos motoristas, os quais levantavam a cuia num sinal
de saudação e cordialidade.
- Olha... putz, atoleiro à
frente.
Esperamos e com cautela
passamos.
- Hércules, não consigo ver à
hora. Está muito escuro, vamos parar aqui na Dona Cláudia, tomar um
refrigerante ou um café? Vamos delegado Celso?
- Aceito.
Quase lacônico, falou Dr.
Celso.
Rurópolis, 21:00 PM. Olhei o
tempo. Partimos e levamos uma lanterna. Estava na hora de enfrentar uma série
de buracos, buraquinhos, buracões e “buracarros”.
De repente, um caminhão descarrilou
e ficou no formato de “L”.
- E agora?
Preocupado perguntei.
"Dona Cota" |
- Doutor, vamos tentar
passar.
Falou Hércules.
- É?
- É!
Ele me respondeu com
firmeza.
- Eu desço para ajudar vocês
a desviar da traseira do caminhão.
Falou delegado Celso.
- Hércules venha devagar. Há
uma ladeira.
Como diz o apresentador de
um programa da tarde da TV globo: “Minutos de tensão no calderãoooooo”. Embora eu
esteja brincando, realmente o momento foi tenso, de dentro da viatura, de um
lado observava o penhasco e do outro, eu via toda a preocupação e
responsabilidade no semblante do delegado Celso. Ali ele foi vital. Muito suor
e sorriso de Alívio. Tudo deu certo, graças à imensa misericórdia divina, a
viagem seguiu em frente. Fileiras de caminhões, chuvas, atoleiros, buracos. No
meio do caminho, várias caminhonetes voltando e um dos condutores nos disse que
não passaríamos ali, pois havia um atoleiro e vários caminhões atravessados,
nem carros pequenos estavam passando.
- E agora? Deus, quem poderá
nos socorrer?
Doutor Ary com os médicos |
Pausa: Imaginem esta cena no
meio da BR 163. Mas, com fé na certeza de que Deus está sempre no comando, Ele
nos lembrou que no meio do caminho não somente pedras...mas sim, um coração.
Então conseguimos chegar até
a Comunidade Deus Proverá, Km 110, BR 230.
Rurópolis, 23:10 PM.
- Delegado, como vai?
Falou Dona Cota.
Acolhendo-me com um forte abraço. De repente, saiu correndo de dentro da casa
irradiando alegria:
- Delegado, delegado,
delegado...
E aquela alegria foi contida
num abraço do tamanho do mundo.
- Delegado, bom te ver.
Falou Katiane, a neta de
Dona Cota.
- Já te falei que quando eu
crescer quero ser delegada?
Perguntou a menina.
- Sim, várias vezes. Não
desistiu ainda disso?
Com um sorriso sincero,
firmemente ela me respondeu:
- Claro que não, é meu
sonho.
Falou-me Katiane. E mesmo me
vendo tão cansado, desnorteado, e sujo de lama, aquela criança falava por
várias vezes, que seria uma delegada. Que era um sonho e me disse que algumas
pessoas diziam que ela não seria.
- Delegado, algumas pessoas
dizem que eu não posso ser delegada.
Falou Katiane.
-Por quê?
Perguntei.
Por que eu sou baixinha.
Ela me respondeu.
Katiane e sua avó "Dona Cota" |
- Não. Não. Nada a ver.
Katiane, basta estudar, ser ético, ser correto, buscar a justiça, a lei, a
ordem. Ser baixinho ou baixinha não é requisito de admissibilidade para o
cargo. Olha para mim, eu também não sou alto. Já ouviu falar nos Nerds? Pois é,
já fui um na adolescência e até hoje uso meus óculos “retrô”. Nem sou um
exemplo de corpo sarado e atlético e não estou aqui fazendo meu trabalho? Olha,
faça por você, estude, se realmente é isso que você quer insista, sonhe e não
aceite ninguém te dizer o contrário.
Expliquei e tranqüilizei
aquela garota, a qual me abraçou novamente e me falou:
- Delegado, por isso que eu
gosto de você. Tá vendo vó, nada a ver, o delegado falou que eu posso ser
delegada e eu vou ser delegada.
E a conversa se estendeu até
altas horas, entre um copo de café e outro.
- Doutor, já é tarde, vá
dormir preparei um local para acolhida de vocês.
Carinhosamente, num afago de
mãe me falou dona Cota, nos encaminhando para os aposentos.
Rurópolis, Tuesday 6:00 AM
- Bom dia.
- Bom dia. Doutor, não vá
ainda embora. Chame sua equipe, vamos tomar café.
Chamava Dona Cota, já
colocando pastel de queijo, tapioca na manteiga, farofa de ovos, pão de queijo,
suco de maracujá, cacau, açaí. Não tinha como dizer não. Reine em mim.
- Dona Cota, como à senhora
sabe que eu gosto disso tudo? Principalmente de tapioca?
Perguntei.
- Fale ali com a Delegada.
Ela lê o que você escreve.
Cota me respondeu.
- É mesmo? Delegada, então
venha aqui.
Chamei Katiane e lhe fiz uma
surpresa, coloquei em seu pescoço meu distintivo. Nossa, os olhos da Dona Cota
se encheram de emoção e da menina também, mas, não nego, os meus ainda mais.
Não imaginava que esta minha simplória atitude inesperada, alimentaria mais
ainda aquele infante coração de esperança e alegrias. É, a vida tem o seu
roteiro, não programei nada disso. Agradecidos pelo carinho de Dona Cota
partimos para sede de Rurópolis. Continuamos nossa saga.
- Segura doutor, o trecho
está liso.
Passamos.
Katiane e DPC Ary |
- Olha lá, Hércules!
Caminhões, muitos caminhões, fileiras de caminhões e muitas cuias de
chimarrões.
Passamos e éramos
cumprimentados pelos motoristas, os quais levantavam a cuia num sinal de
saudação e cordialidade.
- Olha, putz, atoleiro à
frente.
Esperamos e com cautela
passamos.
- Olha ali, mais um
atoleiro. Ei, aqueles ali não são os médicos cubanos?
(((Apertando a tecla SAP)))
- Delegado o Senhor por
aqui?
Perguntou-me um dos médicos.
- Sim, pois é.
Falei.
- Delegado, estamos
registrando tudo. Olhe nossos sapatos.
Falei Dr. Will
- Então, vamos registrar
este encontro.
E quando vimos, já estávamos
tirando selfies, fotos e gravando áudios e vídeos.
- Ok, agora partamos.
Me despedi e a saga
continuou.
Rurópolis, Tuesday 9:00 AM
Extasiados, enfim chegamos.
The Road So far, ou seja, a estrada até aqui. Fim da saga. Se é verdade ou
mentira, o julgamento sobre os fatos aqui narrados, caberá a imaginação de cada
um.
Rurópolis, Friday 10:00 AM
Obrigado por tudo Maria de
Fátima Amorim Torres, popular Dona Cota, abraço a Katiane Torres e até a
próxima. Prepare meu suco de Açaí. Bom fim de semana a todos. O que é real e
ilusório agora são com vocês amigos leitores.
E HAJA 0800!
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