sábado, 18 de abril de 2015

CRÔNICA DA SEMANA: THE ROAD SO FAR

The Road so far... (A estrada tão longe...)
Itaituba, Monday 5:30 PM. Acabou a reunião. Eu olhava à hora no meu relógio.
- Será que ainda há tempo para pegarmos a balsa?
- Claro doutor.
Falou o investigador Hércules.
- Então vamos! Mas, será que não ficaremos no meio do caminho? Num atoleiro? A estrada está de amargar.
- Vamos.
Respondeu-me Hércules.
- É?
Perguntei meio preocupado, mas sabia que o motorista era bom e já sentia no ar um cheiro de “aventura”, aliás, não era a primeira vez que passávamos por isso.
Itaituba, 6:00 PM. Aliviado, conseguimos alcançar a balsa.
Pausa: Quero deixar claro que um dos meus defeitos ou virtudes é ser bastante teimoso, pois, não faltaram convites e acolhidas para dormir no município de Itaituba, mas, nunca larguei esta minha mania de “cachorro velho” em passar o dia inteiro na rua e no final querer voltar para dormir em casa.
- Que bom, chegamos a Miritituba.
Falei.
DPC Celso, DPV Ary e Katiane
- Agora é cortar chão.
Disse Hércules.
Gosto desta expressão utilizada pelo investigador. Intimamente, quando a escuto, o meu instinto já se prepara para o trajeto cansativo e perigoso, porém, sabe-se e se conforta que será uma longa viagem, um longo papo, uma troca de idéias, de contos, “causos” e casos de polícia para serem compartilhados, além de momentos tensos, em razão das adversidades e surpresas que podem aparecer na estrada. Quanto à lama, eu já nem me espanto mais, afinal são sete anos, sete temporadas, sete vidas nessa correria.  
- Segura doutor, o trecho está liso.
Passamos.
IPC Hércules
- Olha lá, Hércules! Caminhões, muitos caminhões, fileiras de caminhões e muitas cuias de chimarrões.
Passamos. E o bacana, que ainda éramos cumprimentados pelos motoristas, os quais levantavam a cuia num sinal de saudação e cordialidade.
- Olha... putz, atoleiro à frente.
Esperamos e com cautela passamos.
- Hércules, não consigo ver à hora. Está muito escuro, vamos parar aqui na Dona Cláudia, tomar um refrigerante ou um café? Vamos delegado Celso?
- Aceito.
Quase lacônico, falou Dr. Celso.
Rurópolis, 21:00 PM. Olhei o tempo. Partimos e levamos uma lanterna. Estava na hora de enfrentar uma série de buracos, buraquinhos, buracões e “buracarros”.
De repente, um caminhão descarrilou e ficou no formato de “L”.
- E agora?
Preocupado perguntei.
"Dona Cota"
- Doutor, vamos tentar passar.
Falou Hércules.
- É?
- É!
Ele me respondeu com firmeza.
- Eu desço para ajudar vocês a desviar da traseira do caminhão.
Falou delegado Celso.
- Hércules venha devagar. Há uma ladeira.
Como diz o apresentador de um programa da tarde da TV globo: “Minutos de tensão no calderãoooooo”. Embora eu esteja brincando, realmente o momento foi tenso, de dentro da viatura, de um lado observava o penhasco e do outro, eu via toda a preocupação e responsabilidade no semblante do delegado Celso. Ali ele foi vital. Muito suor e sorriso de Alívio. Tudo deu certo, graças à imensa misericórdia divina, a viagem seguiu em frente. Fileiras de caminhões, chuvas, atoleiros, buracos. No meio do caminho, várias caminhonetes voltando e um dos condutores nos disse que não passaríamos ali, pois havia um atoleiro e vários caminhões atravessados, nem carros pequenos estavam passando.
- E agora? Deus, quem poderá nos socorrer?
Doutor Ary com os médicos
Pausa: Imaginem esta cena no meio da BR 163. Mas, com fé na certeza de que Deus está sempre no comando, Ele nos lembrou que no meio do caminho não somente pedras...mas sim, um coração.
Então conseguimos chegar até a Comunidade Deus Proverá, Km 110, BR 230.
Rurópolis, 23:10 PM.
- Delegado, como vai?
Falou Dona Cota. Acolhendo-me com um forte abraço. De repente, saiu correndo de dentro da casa irradiando alegria:
- Delegado, delegado, delegado...
E aquela alegria foi contida num abraço do tamanho do mundo.
- Delegado, bom te ver.
Falou Katiane, a neta de Dona Cota.
- Já te falei que quando eu crescer quero ser delegada?
Perguntou a menina.
- Sim, várias vezes. Não desistiu ainda disso?

Com um sorriso sincero, firmemente ela me respondeu:
- Claro que não, é meu sonho.
Falou-me Katiane. E mesmo me vendo tão cansado, desnorteado, e sujo de lama, aquela criança falava por várias vezes, que seria uma delegada. Que era um sonho e me disse que algumas pessoas diziam que ela não seria.
- Delegado, algumas pessoas dizem que eu não posso ser delegada.
Falou Katiane.
-Por quê?
Perguntei.
Por que eu sou baixinha.
Ela me respondeu.
Katiane e sua avó "Dona Cota"
- Não. Não. Nada a ver. Katiane, basta estudar, ser ético, ser correto, buscar a justiça, a lei, a ordem. Ser baixinho ou baixinha não é requisito de admissibilidade para o cargo. Olha para mim, eu também não sou alto. Já ouviu falar nos Nerds? Pois é, já fui um na adolescência e até hoje uso meus óculos “retrô”. Nem sou um exemplo de corpo sarado e atlético e não estou aqui fazendo meu trabalho? Olha, faça por você, estude, se realmente é isso que você quer insista, sonhe e não aceite ninguém te dizer o contrário.
Expliquei e tranqüilizei aquela garota, a qual me abraçou novamente e me falou:
- Delegado, por isso que eu gosto de você. Tá vendo vó, nada a ver, o delegado falou que eu posso ser delegada e eu vou ser delegada.
E a conversa se estendeu até altas horas, entre um copo de café e outro.
- Doutor, já é tarde, vá dormir preparei um local para acolhida de vocês.
Carinhosamente, num afago de mãe me falou dona Cota, nos encaminhando para os aposentos.
Rurópolis, Tuesday 6:00 AM
- Bom dia.
- Bom dia. Doutor, não vá ainda embora. Chame sua equipe, vamos tomar café.
Chamava Dona Cota, já colocando pastel de queijo, tapioca na manteiga, farofa de ovos, pão de queijo, suco de maracujá, cacau, açaí. Não tinha como dizer não. Reine em mim.
- Dona Cota, como à senhora sabe que eu gosto disso tudo? Principalmente de tapioca?
Perguntei.
- Fale ali com a Delegada. Ela lê o que você escreve.
Cota me respondeu.
- É mesmo? Delegada, então venha aqui.
Chamei Katiane e lhe fiz uma surpresa, coloquei em seu pescoço meu distintivo. Nossa, os olhos da Dona Cota se encheram de emoção e da menina também, mas, não nego, os meus ainda mais. Não imaginava que esta minha simplória atitude inesperada, alimentaria mais ainda aquele infante coração de esperança e alegrias. É, a vida tem o seu roteiro, não programei nada disso. Agradecidos pelo carinho de Dona Cota partimos para sede de Rurópolis. Continuamos nossa saga.
- Segura doutor, o trecho está liso.
Passamos.
Katiane e DPC Ary
- Olha lá, Hércules! Caminhões, muitos caminhões, fileiras de caminhões e muitas cuias de chimarrões.
Passamos e éramos cumprimentados pelos motoristas, os quais levantavam a cuia num sinal de saudação e cordialidade.
- Olha, putz, atoleiro à frente.
Esperamos e com cautela passamos.
- Olha ali, mais um atoleiro. Ei, aqueles ali não são os médicos cubanos?
(((Apertando a tecla SAP)))
- Delegado o Senhor por aqui?
Perguntou-me um dos médicos.
- Sim, pois é.
Falei.
- Delegado, estamos registrando tudo. Olhe nossos sapatos.
Falei Dr. Will
- Então, vamos registrar este encontro.
E quando vimos, já estávamos tirando selfies, fotos e gravando áudios e vídeos.
- Ok, agora partamos.
Me despedi e a saga continuou.
Rurópolis, Tuesday 9:00 AM
Extasiados, enfim chegamos. The Road So far, ou seja, a estrada até aqui. Fim da saga. Se é verdade ou mentira, o julgamento sobre os fatos aqui narrados, caberá a imaginação de cada um.
Rurópolis, Friday 10:00 AM

Obrigado por tudo Maria de Fátima Amorim Torres, popular Dona Cota, abraço a Katiane Torres e até a próxima. Prepare meu suco de Açaí. Bom fim de semana a todos. O que é real e ilusório agora são com vocês amigos leitores.

E HAJA 0800!

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