Doutor Ary Vital com senhor Cléo Farias |
Ontem, 03 de Abril de 2015.
- São 5hs40min, cadê meus
óculos? Cadê meu celular.
Meio desperto, meio dormindo
eu conversava comigo em pensamentos e os procurava com as mãos, dando
prioridade aos óculos, pois não adiantaria achar primeiro o aparelho de celular
se meus 6 graus de miopia não deixariam ver as teclas e telefonar.
- Achei. Tomara que ela atenda. Bom dia Mãe, já acordada ou te acordei?
- Bom dia meu filho, quantas
saudades.
- Mãe, Feliz Aniversário.
- Obrigada meu filho. Você
está bem?
Com uma voz suave me
perguntou.
- Sim. Apenas escute o que
tenho para te dizer.
Senhora Ivone preparando o 0800 |
De repente, não ouvia mais a
voz, apenas a respiração e mentalmente o coração da primeira mulher que vi
depois que nasci. Sei disso, porque ela me falou que eu demorei dois dias,
quase três, para abrir os olhos, o que já estava deixando preocupada. Vovó Aída
Soares teria lhe dito, para não se preocupar quando ele estiver preparado e
quiser vai abrir os olhos. Dito e feito, segundo Vovó, eu estava no colo da
mamãe quando abri pela primeira vez os olhos. Todos comemoraram inclusive papai
soltou fogos na rua de casa e falou com o tempo: seja bem vindo meu filho!
Foram duas comemorações, sendo a primeira às 0hs10min de 23 de julho de 1976.
- Mãe, muito obrigado por
tudo. Por ter lutado por mim desde o ventre, pelo alimento, pelas horas sem
dormir para me amamentar quando bebê e, em todas as minhas fases, pelas
reclamações, puxadas de orelhas e merecidas chineladas, mas logo acompanhadas
de um profundo abraço afetuoso seguido de um diálogo amigo, mostrando o que era
o certo. Mãe, obrigado pelas renúncias pessoais e profissionais feitas para me
educar e colocar no caminho certo. Obrigado pelos livros e por todas as vezes
que segurou na minha mão para ter firmeza com o lápis e me ajudar a fazer o “A”
do meu nome. Obrigado por todas as vezes que me forçou a ir para o dicionário,
gramática e ao caderno de caligrafia na busca do conhecimento. Mãe, obrigado
por me ensinar valores, princípios, ética e me fazer rezar e ser grato diante
das dificuldades e graças alcançadas, a acreditar em Deus e que ainda há homens
bons na vida e que nosso caminho somente pertence ao Criador.
- Obrigada meu filho, eu te
amo.
Senhora Laci Sost |
Nossa... Quanto tempo eu não
ouvia um eu te amo tão verdadeiro que me fez sentir no coração.
- Meu filho, hoje é
sexta-feira Santa, logo estarei indo para o Santuário, onde passarei o dia em
atividades religiosas, orações, procissões, orando por você, pelo seu pai, seu
irmão, por nós. Não se esqueça... Ore, limpe seu coração de todas as angustias,
as tristezas, as decepções, as revoltas, deixe ele limpo, em corações sujos
Deus não habita. Lembre-se disso!
- Mãe, gostaria muito de
estar aí com vocês...
Logo fui interrompido...
- Ei, você escolheu estar
aí. Ninguém te obrigou, por outro lado, fico aliviada por que sei que não
somente eu, mas muitos de Rurópolis também te amam como filho.
Entrei no meu momento em que
se chama de “um instante que não para” e muitas pessoas, fatos, situações,
momentos passaram na minha mente.
Doutor Ary com Padre Jean Paul (Pároco do município) |
- Meu filho, a vida tem seu
roteiro, assim como você escreve para seus personagens, a vida também se
encarrega de escrever o seu próprio texto.
Te amo, até de repente.
E assim acabou nossa
conversa, naquele momento. Fiquei pensando no Roteiro da vida. Tomei banho e me
programei.
- São 6hs. Em pensamento eu
entrei no meu rotineiro circuito fechado: Tomar banho, escovar os dentes,
calçar tênis, vestir camiseta preta e short verde. Fazer exercícios matinais.
Mas, ao sair...
- Bom dia doutor.
- Bom dia Diogo.
- Olha uma borboleta. Égua...
Que borboleta linda. Sinal de boa sorte.
Pessoal se reunindo para a procissão |
E nessa conversa de boa
sorte, quando eu vi as horas já tinham passado e café já tomado. Não fui mais
me exercitar. Pelo tardar da hora fui à delegacia ver se estava tudo tranquilo.
Olhei a cidade e nenhuma alteração. Coração Leve e comecei a caminhar pelas
ruas e avenidas. E andando, após pensar no que mamãe teria me falado sobre o
roteiro que a vida procura escrever para cada um de nós, eu já estava na porta
da Igreja Matriz. Entrei, limpei meu coração e orei por mim e pelas pessoas com
boas e más intenções que cruzam nossos caminhos. De repente...
- Bom dia Delegado, quanto
tempo, me dê um abraço aqui.
- Bom dia Sr. Cléo.
E me perdi na conversa com o
marido de dona Quinha. Papo agradabilíssimo. Pessoa do bem, da paz. Não tinha
outra forma a não ser deixar que aquele momento não reinasse em mim. Senti uma
paz dentro da Igreja. Depois saí. O telefone toca:
- Doutor, cadê o senhor
homem? Tem um peixe assado aqui te esperando, onde eu deixo? Perguntava-me meu
amigo Samuel, filho do Vincentinho da Cachoeira.
- Eu estou indo lá para o
CTG. Deixa lá, por favor.
Mas, quando eu cheguei lá
Ivone e Barbudo me receberam de braços abertos com um banquete. O telefone toca
de novo.
- Doutor, cadê o Senhor?
Venha almoçar comigo uma torta de Pirarucu.
Me convidava Mazinho.
- Deus do Céu. Sou muito
abençoado, para quem não tinha um convite e nem programado onde iria almoçar de
repente um rodízio de amigos e delícias do rio.
- Doutor. Entre naquela
casinha e veja, tem surpresa lá par ao senhor.
Disse Dona Ivone.
Sem medo, entrei e PAT me
deixou acariciar os seus filhotes nascidos naquele dia. Levei até uma lambida
na cara como forma de carinho da Pit Bull.
Depois de um tempo saí dali e voltei andando para casa e no caminho, já
dobrando a esquina, adivinhem quem me olha e ri para mim?
Doutor Ary com senhora Anna e senhora Nelsi |
- Delegado, me dê um abraço.
Disse o Padre, quase
irreconhecível com aquele sobreiro.
- Venha aqui, seja bem
vindo.
E no meio daquele povo de
Deus, encontrei tantos sorrisos, tantos abraços, tantos risos. Ganhei até um abraço de amigo, mas abraço de
amigo mesmo, daqueles que um segura o outro para não deixar o outro cair. Tudo
debaixo de uma sombrinha da Dona Ana e Dona Nelsi.
- Doutor venha cá.
Outro chamado. Era a mulher
do Cupuaçu, desta vez eu descubro o nome dela.
- Olá, como vai a senhora?
- Bem doutor. Feliz Páscoa.
- Perdão, mas não sei o seu
nome, há tempos que quero saber, pois, a Senhora sempre me presenteia com
Cupuaçu, deixando para mim na delegacia e quando procuro para saber quem deixou
só tenho a notícia que a pessoa subiu numa bicicletinha e partiu.
Ela sorrindo disse:
- Doutor, meu nome é Laci
Sost.
E o meu qual é? Perguntei.
- Não sei doutor.
Pronto quitei a dívida.
Brincadeira, jamais poderei
quitar um carinho e um amor tão grandioso que senti naquele dia. Tantos
sorrisos, tantos afetos e tanta paz.
Mamãe tinha razão mais uma
vez. E ao chegar em casa eu fui nos procurar
nos meus arquivos um texto publicado na internet que certa vez li, era
assim: “De vez em quando pequenas mudanças no curso de um dia, ou minúsculas
alterações no trajeto da rotina podem desencadear uma seqüência de eventos que
modificam tudo, como se a vida tivesse seu próprio roteiro, e você estivesse
sendo empurrado por ventos fortes numa direção, escolhido para viver alguma
situação”.
É isso...
BOA
PÁSCOA A TODOS.
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