Senhor Antonio com o autor |
- Dr., “Oriosvaldo”, é uma
satisfação muito grande lhe receber na minha casa, na nossa Comunidade. Nunca
imaginei que o senhor um dia viria aqui.
E foi com esta imensa
receptividade e um imenso sorriso de abrir caminhos que se iniciou a crônica da
semana. Fiquei até sem jeito com o carinho que fui recebido na casa do Sr.
Antônio na comunidade Pebolândia. Era notória a alegria em me ver chegando de
repente, sem aviso. Enquanto isso, a vizinhança curiosa querendo saber o que
houve. Muitos devem até pensado: “Polícia na casa do Antônio, o que
aconteceu?”. Principalmente, quando ele gritava:
- Ei menino, vai lá chamar a
tua avó urgente!
Senhor Antonio e família |
Eu dizia:
- Se acalme seu Antônio,
estava lhe devendo uma visita, lembra? Quantas vezes o senhor foi comigo lá na
delegacia me convidar para tomar um café na sua casa. Se eu soubesse que iria
causar todo esse reboliço não teria vindo.
E ele, com um sorriso que
não continha no rosto:
- Reboliço nada homem. É uma
satisfação receber Vossa Excelência na minha casa. Ei, “meninuuuuuuuu”, anda
logo, deixa esse vídeo-game e vai correndo chamar a tua avó.
E eu:
- Sr., Antônio,
primeiramente, vamos dar títulos para quem gosta deles. Esquece esse negócio de
Vossa Excelência que eu não gosto dessas formalidades.
E de repente chegou o dito
menino, neto de Sr., Antônio. Com a mão no ombro do garoto, ele ofegante dizia
pausadamente:
- Menino, vai lá e diga para
a tua avó para vim logo para casa, e passar um café para o Doutor “Oriosvaldo”
que ele está aqui com a comitiva dele.
E o moleque saiu correndo se
embrenhando na mata.
Eu:
- Sr., Antônio não precisa
isso tudo. Ei meninuuuuuuu, volta aqui. E que comitiva é essa que o senhor
inventou? Comitiva de duas pessoas? Somente eu e o investigador Antônio.
Estamos até de passagem, fazendo uma investigação sigilosa.
E ele:
-Sigilosa? É? Então me
conte.
Eu:
- Se é sigilosa como eu
posso contar? Até daqui a pouco Sr. Antônio, vamos bem ali e na volta paramos
de novo.
Ele fazendo uma cara triste:
- Já? E o café, homem? O
menino já deve tá chegando com a avó para fazer.
Eu, rindo:
- Calma, eu vou e volto.
Iremos parar aqui no retorno. Daqui há 40 minutos estaremos de volta.
E a “comitiva” criada pelo
Sr. Antônio partiu para a missão que demorou mais 2 horas. Quando retornamos já
fim de tarde.
- Meninuuuuuuuu, abre o
portão, a comitiva chegou.
Eu:
- Pensou que não iríamos
voltar, mas estamos aqui amigo. Culpa minha também, vim contemplando a beleza
do fim de tarde na transamazônica.
Ele, calmamente disse:
- Eu até falei: “Mulher será
que falei alguma coisa para o Dr., “Oriosvaldo” e ele não gostou?”.
Eu:
- Pronto! Falou nada! Estou
aqui de volta junto com o policial Antônio, seu xará.
Ele:
- Dá um abraço aqui então
Sr. Antônio. Meu nome é Antônio Alves de Souza, popular Antônio da Neuza.
Eu:
- Neuza é o nome de sua
esposa?
Ele:
- Não, era o nome da minha
mãe. O da minha companheira é Santana. Oh meninuuuuu chama aí a Santana para
conhecer o Dr. “Orivaldo”. Diz também para trazer o café com pupunha para a “comitiva”
dele.
Eu:
- Como vai Dona Santana?
Obrigado não precisava tanto. E esse
negócio de “comitiva” é invenção dele.
Dona Santana, em voz baixa
me disse:
- Este homem já estava
triste achando que o senhor não iria mais voltar. Mandou fazer café, tirar pupunha
da pupunheira, cozinhar pupunha.
Eu:
Estou aqui.
E quanto mais nós
conversávamos, mais Sr. Antônio trocava meu nome. Neste dia meu nome sofreu
tantas variações, que estava já até confundindo as pessoas que estavam
chegando. E ele chamou netos, vizinhos, amigos, encheu a casa, contou
histórias, inclusive que algumas pessoas o apelidam de Jacamim. Gosto dessas
curiosidades e de calor humano, pois faz bem igual pupunha quente com café
preto.
Eu:
- Por que lhe chamam de
Jacamim?
Ele com toda sua simplicidade
e humanidade, ele explicou:
- Doutor “Ori”, Jacamim é
uma ave silvestre que cuida dos filhos de outras aves. E eu tenho tantos filhos
de coração por aí, que só me enchem de orgulho. Sou muito abençoado por Deus.
E a história se esticou até
de noite:
- Ficou tarde, Sr. Antônio
da Neuza obrigado pelo carinho.
Ele segurando minha mão:
- Dr. “Ori”, para mim que
foi uma honra.
Eu:
- Não diga isso, não me tire
esse prazer. A honra foi toda minha por toda essa troca de energia, toda essa
simplicidade, alegria e pelo café com pupunha. Hoje o senhor me ensinou uma
lição: “Melhor do que ser conhecido é ser uma pessoa que vale a pena conhecer”.
Ele:
- Volte sempre.
Eu:
Claro que eu volto. Obrigado
por me receber com tanto afeto no seu ninho e de dona Santana.
E eu fui pensando, em mais
uma lição de vida: Uns com muito, mas tão egoístas e infelizes e outros com tão
pouco, mas tão generosos e felizes. E para estes o melhor dia é o presente, não
é o ontem e nem o amanhã, e sim o hoje.
E com base nisso, e olhando para
trás, que percebo que já encontrei muitos “Jacamins” fazendo o bem e a
diferença na vida do próximo. Até
cheguei pesquisar sobre a vida dessas aves e descobri uma curiosidade que o
Jacamim é muito fiel ao bando, onde todos cuidam uns dos outros. Dizem que,
quando um jacamim se machuca, os outros ficam por perto para protegê-lo. Alguns
caçadores se aproveitam da lealdade dos Jacamins, prendendo um deles no meio do
mato para atrair e caçar o resto do bando.
Entre o real e o imaginário,
entre a verdade e a fantasia aqui contada, ente “Oris” e “Jacamins”, o que eu
já nem sei mais, encerro a crônica do dia. Um beijo à todos, fiquem com Deus. Ary Vital Filho.
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