sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

CRÔNICA DA SEMANA: O JACAMIM

Senhor Antonio com o autor
- Dr., “Oriosvaldo”, é uma satisfação muito grande lhe receber na minha casa, na nossa Comunidade. Nunca imaginei que o senhor um dia viria aqui.
E foi com esta imensa receptividade e um imenso sorriso de abrir caminhos que se iniciou a crônica da semana. Fiquei até sem jeito com o carinho que fui recebido na casa do Sr. Antônio na comunidade Pebolândia. Era notória a alegria em me ver chegando de repente, sem aviso. Enquanto isso, a vizinhança curiosa querendo saber o que houve. Muitos devem até pensado: “Polícia na casa do Antônio, o que aconteceu?”. Principalmente, quando ele gritava:
- Ei menino, vai lá chamar a tua avó urgente!
Senhor Antonio e família

Eu dizia:
- Se acalme seu Antônio, estava lhe devendo uma visita, lembra? Quantas vezes o senhor foi comigo lá na delegacia me convidar para tomar um café na sua casa. Se eu soubesse que iria causar todo esse reboliço não teria vindo.
E ele, com um sorriso que não continha no rosto:
- Reboliço nada homem. É uma satisfação receber Vossa Excelência na minha casa. Ei, “meninuuuuuuuu”, anda logo, deixa esse vídeo-game e vai correndo chamar a tua avó.
E eu:
 - Sr., Antônio, primeiramente, vamos dar títulos para quem gosta deles. Esquece esse negócio de Vossa Excelência que eu não gosto dessas formalidades. 
E de repente chegou o dito menino, neto de Sr., Antônio. Com a mão no ombro do garoto, ele ofegante dizia pausadamente:
- Menino, vai lá e diga para a tua avó para vim logo para casa, e passar um café para o Doutor “Oriosvaldo” que ele está aqui com a comitiva dele.
E o moleque saiu correndo se embrenhando na mata.
Eu:
- Sr., Antônio não precisa isso tudo. Ei meninuuuuuuu, volta aqui. E que comitiva é essa que o senhor inventou? Comitiva de duas pessoas? Somente eu e o investigador Antônio. Estamos até de passagem, fazendo uma investigação sigilosa.
E ele:
-Sigilosa? É? Então me conte.
Eu:
- Se é sigilosa como eu posso contar? Até daqui a pouco Sr. Antônio, vamos bem ali e na volta paramos de novo.
Ele fazendo uma cara triste:
- Já? E o café, homem? O menino já deve tá chegando com a avó para fazer.
Eu, rindo:
- Calma, eu vou e volto. Iremos parar aqui no retorno. Daqui há 40 minutos estaremos de volta.
E a “comitiva” criada pelo Sr. Antônio partiu para a missão que demorou mais 2 horas. Quando retornamos já fim de tarde.
- Meninuuuuuuuu, abre o portão, a comitiva chegou.
Eu:
- Pensou que não iríamos voltar, mas estamos aqui amigo. Culpa minha também, vim contemplando a beleza do fim de tarde na transamazônica.   

 Ele, calmamente disse:
- Eu até falei: “Mulher será que falei alguma coisa para o Dr., “Oriosvaldo” e ele não gostou?”.
Eu:
- Pronto! Falou nada! Estou aqui de volta junto com o policial Antônio, seu xará.
Ele:
- Dá um abraço aqui então Sr. Antônio. Meu nome é Antônio Alves de Souza, popular Antônio da Neuza.
Eu:
- Neuza é o nome de sua esposa?
Ele:
- Não, era o nome da minha mãe. O da minha companheira é Santana. Oh meninuuuuu chama aí a Santana para conhecer o Dr. “Orivaldo”. Diz também para trazer o café com pupunha para a “comitiva” dele.
Eu:
- Como vai Dona Santana? Obrigado não precisava tanto.  E esse negócio de “comitiva” é invenção dele.
Dona Santana, em voz baixa me disse:
- Este homem já estava triste achando que o senhor não iria mais voltar. Mandou fazer café, tirar pupunha da pupunheira, cozinhar pupunha.
Eu:
Estou aqui.
E quanto mais nós conversávamos, mais Sr. Antônio trocava meu nome. Neste dia meu nome sofreu tantas variações, que estava já até confundindo as pessoas que estavam chegando. E ele chamou netos, vizinhos, amigos, encheu a casa, contou histórias, inclusive que algumas pessoas o apelidam de Jacamim. Gosto dessas curiosidades e de calor humano, pois faz bem igual pupunha quente com café preto.
Eu:
- Por que lhe chamam de Jacamim?
Ele com toda sua simplicidade e humanidade, ele explicou:
- Doutor “Ori”, Jacamim é uma ave silvestre que cuida dos filhos de outras aves. E eu tenho tantos filhos de coração por aí, que só me enchem de orgulho. Sou muito abençoado por Deus.
E a história se esticou até de noite:
- Ficou tarde, Sr. Antônio da Neuza obrigado pelo carinho.
Ele segurando minha mão:
- Dr. “Ori”, para mim que foi uma honra.
Eu:
- Não diga isso, não me tire esse prazer. A honra foi toda minha por toda essa troca de energia, toda essa simplicidade, alegria e pelo café com pupunha. Hoje o senhor me ensinou uma lição: “Melhor do que ser conhecido é ser uma pessoa que vale a pena conhecer”.
Ele:
- Volte sempre.
Eu:
Claro que eu volto. Obrigado por me receber com tanto afeto no seu ninho e de dona Santana.
E eu fui pensando, em mais uma lição de vida: Uns com muito, mas tão egoístas e infelizes e outros com tão pouco, mas tão generosos e felizes. E para estes o melhor dia é o presente, não é o ontem e nem o amanhã, e sim o hoje.

E com base nisso, e olhando para trás, que percebo que já encontrei muitos “Jacamins” fazendo o bem e a diferença na vida do próximo.  Até cheguei pesquisar sobre a vida dessas aves e descobri uma curiosidade que o Jacamim é muito fiel ao bando, onde todos cuidam uns dos outros. Dizem que, quando um jacamim se machuca, os outros ficam por perto para protegê-lo. Alguns caçadores se aproveitam da lealdade dos Jacamins, prendendo um deles no meio do mato para atrair e caçar o resto do bando.

Entre o real e o imaginário, entre a verdade e a fantasia aqui contada, ente “Oris” e “Jacamins”, o que eu já nem sei mais, encerro a crônica do dia. Um beijo à todos, fiquem com Deus. Ary Vital Filho.

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