sábado, 24 de janeiro de 2015

CRÔNICA: A ARTE DE LER FORA DA SALA DE AULA


Estudo entorpecido de chá seja de camomila, de canela, verde, laranja, limão ou até de alho, mania antiga de estudante secundarista, que esta até hoje impregnado em mim. Melhor época: Anos 80. Fiz amigos de verdade. Amigos atemporais. Não havia esta história de preconceito ou bullyng. Na verdade nem sabíamos o que era isso, mas, éramos experts na chamada “encarnação”. Todo mundo se “encarnava”, tirava sarro, logo em seguida vinha a “forra” e estava tudo resolvido. Nós mesmos éramos senhores de nossas defesas, julgamentos e sentenças. 
Ultimamente, estou lendo “A psicanálise dos contos de fadas” de Bruno Bettelheim. Fantástico. A leitura tem me ajudado muito, inclusive, os contos e análise de Bruno B., tem me trazido uma maturidade psicológica, auxiliando-me aplicar ao meu dia-a-dia.  Vejo nos textos uma radiografia das mais famosas histórias para crianças, onde se aponta o seu verdadeiro significado, mostrando os processos psicológicos que ocorrem no cérebro da criança ao se deparar com os contos de fadas e as quão essas histórias são necessárias para o seu desenvolvimento psicológico e social.
Lembro-me das programações culturais realizadas pela Diretora Bemvinda e professora Rosita, no Colégio Santa Emília, em que tínhamos contatos com estas histórias. Uma das minhas preferidas era o “Soldadinho de Chumbo” escrita magnificamente por Hans Christian Andersen  no ano de 1838. Salvo engano, o mesmo que escreveu “O patinho feio”. Filho de sapateiro e de uma cozinheira, residentes no Reino Unido, procurava auxiliar na renda familiar escrevendo textos e encenando com marionetes em praça, atraindo atenção de crianças e adultos. Nunca entendi, por que o “Soldadinho” e a “Bailarina” não tiveram um feliz. Eu seria mais generoso se fossem minhas personagens. Gosto de finais, mas deste final tão trágico, não gostei.  Vamos lembrar a história: “um menino, em seu aniversário, ganha uma caixa com 25 soldados feitos de estanho e os alinha em cima de uma mesa. O último dos soldados tem apenas uma perna. 


Perto, há uma bailarina de papel usando uma faixa onde há uma lantejoula, e ela se equilibra somente em uma perna, com os braços levantados. O soldado de uma perna só acredita que a bailarina também tem somente uma perna, e inicia um amor platônico. Naquela noite, um palhaço entre os outros brinquedos adverte o soldado para que ele pare de olhar para a bailarina, mas o soldado o ignora. No dia seguinte, o soldado cai do parapeito da janela [presumivelmente um trabalho do palhaço] e fica na calçada. Dois meninos encontram o soldado, o colocam num barquinho de papel e o lançam pela sarjeta. O barquinho cai no esgoto, onde um rato obriga o soldado a pagar um pedágio, mas o soldado continua navegando até cair num canal, onde é engolido por um peixe. Quando este é pescado e cortado, o soldado está na mesma casa de antes, e é colocado de volta próximo à bailarina. Inexplicavelmente, o menino joga o soldado no fogo. Um vento sopra e derruba a bailarina também no fogo; ela é consumida instantaneamente, somente restando a lantejoula. O soldado derrete numa poça em forma de coração”. Fato este que me incomodava até uns dias, até que, recentemente, fui entender: Hans apresentava no seu teatro peças clássicas, tendo chegado a memorizar muitas peças de Shakespeare, que encenava com seus brinquedos.  Taí a influência de Shakespeare. Nada contra Shakespeare. Amo tudo que ele escreveu e que pude ter contato. O filme “Shakespeare apaixonado”, já sei até algumas falas em inglês. 
Toda vez que releio a saga do soldadinho de chumbo para ficar com a bailarina, eu não me conformo com o final. A simbologia foi linda, mas, vê-los morrer no fogo...  Isso me incomodou tanto,  que há 14 anos, eu também escrevi uma história cheia de simbolismo,  inspirada em muita coisa que eu li, presenciei, chorei e me divertir com amigos e familiares,  cuja temática também é o amor, a coragem, a determinação  e um belo Final Feliz e que me perdoe Shakespeare, com toda minha ignorância, mas, procurei nesta história reinventar o amor.
Bem, bom sábado para vocês. Preparando mais um chá para a próxima da semana que vem.

Nota:

Ei Pai, Ei Mãe, leia um livro para seu filho. Conte um história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário