Casas construída pelo INCRA e entregue aos agricultores |
“O
povo brasileiro responde ao desafio da história ocupando o coração da
Amazônia”. Com estas palavras, o então presidente da República,
Emílio Garrastazu Médici inaugurou em 12 de fevereiro de 1974 a
Rurópolis batizada com seu próprio nome, localizada no Pará. A Rurópolis
Presidente Médici foi fundada no entroncamento da BR 163, Cuiabá – Santarém
e BR 230, Transamazônica, as duas grandes rodovias previstas no Programa de
Integração Nacional (PIN), uma das principais políticas do governo militar. O
modelo de desenvolvimento pretendido pela ditadura para a região da
Transamazônica previa a criação de Agrovilas, Agrópolis e Rurópolis. Essas
últimas, seriam o ponto alto do modelo de urbanismo pretendido, com serviços
bancários, escolas e hospitais. Apenas a Rurópolis Presidente Médici, no
entanto, foi inaugurada em um evento que contou com a presença de várias
autoridades e teve ampla cobertura da imprensa.
Hotel Presidente Médici |
A
Transamazônica representava muito mais do que um projeto de estrada. Sua
construção buscava materializar um grande programa de colonização na Amazônia e
transformação de um território. A rodovia era apresentada nas propagandas
oficiais como símbolo do “progresso e da segurança nacional” e como um
grande projeto nacionalista que resolveria os problemas sociais da região.
Neste
projeto, a colonização daquela vasta região seria feita por trabalhadores/as
migrantes nordestinos e sulistas, incentivados a trabalhar na expansão da
fronteira agrícola. Estava implícita a concepção de que a presença do elemento
branco e “evoluído” nortearia o progresso da região. Ainda hoje é comum ouvir
histórias de favorecimento de sulistas em detrimento dos nordestinos no que diz
respeito ao acesso de bons lotes e crédito para produção. Além disso, há um
apagamento da presença indígena nos relatos oficiais, apesar da larga
utilização do trabalho dos povos originários locais nas construções naquela
região.
Familia residente na "Vila da Palha" |
Os
primeiros colonos, que foram trazidos oficialmente pelo Instituto de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), obtiveram os lotes de terra mais
próximos da rodovia. Já as famílias candidatas à colonos que chegaram atraídas
pela propaganda, mas fora do programa oficial, acabavam se instalando nos lotes
mais distantes ou se aglomeravam nas imediações de Rurópolis, à espera do tão
sonhado pedaço de terra. O PIN também previa que parte dos trabalhadores
migrantes mobilizados para a construção das rodovias pudessem fixar-se na
região, transformando-os em colonos.
A
cidade planejada Rurópolis Presidente Médici era destinada apenas aos
prédios de instituições públicas e dos prestadores de serviços, além das
moradias dos funcionários dessas instituições. Era proibida a construção de
novas casas sem autorização das autoridades governamentais. As numerosas
famílias do Nordeste e do Sul que chegavam eram obrigadas a improvisar
habitações nas margens da rodovia e da cidade planejada.
Inicio da cidade planejada |
O
principal local dessas moradias precárias ficou conhecido como Vila da Palha.
As moradias da vila eram construídas com madeira das sobras da cidade
planejada, sacos de cimento utilizado na obra e palha da floresta.
As
mulheres e as crianças costumavam ficar na Vila da Palha, onde, além de se
sentirem mais seguras, eventualmente era possível ganhar algum dinheiro
prestando serviços para os moradores da cidade planejada. Os homens adentravam
a mata para abrir as picadas que permitissem chegar aos lotes. Muitas vezes
este trabalho ocorria de maneira coletiva, com as diferentes famílias
ajudando-se mutuamente para abrir picadas, construir pontes, derrubar a mata e
construir casas nos lotes.
Área Comercial |
Primeira Igreja Católica |
Às
vésperas da inauguração oficial da Rurópolis Presidente Médici as autoridades
locais decidiram que aquela ocupação não planejada poderia manchar a imagem do
projeto e decidiram que todas as famílias deveriam ser retiradas. Dias antes da
solenidade de inauguração um funcionário do INCRA conhecido como Carlão comandou
a desocupação violenta da área. Segundo seu Eucídio, antigo morador da região, “tocaram
fogo nas casas e o pessoal tudo correndo de dentro de casa. Esse Carlão mandou
tocar fogo e trator empurrando com gente, aquela coisa assim… deu dó.” As
pessoas e objetos foram colocados em caminhões. Algumas foram levadas para os
lotes distantes, outras foram deixados na margem da Transamazônica a alguns
quilômetros de distância da cidade planejada em uma área conhecida hoje como
Petezinho. Na antiga área de Vila Palha foi semeado arroz e na ocasião do
evento de inauguração já havia um exuberante gramado verde que nada lembrava a
existência de uma “favela” nos limites da cidade planejada.
Fundação SESP |
Embora
nada tenha sido oficialmente registrado, ainda é forte na região a memória
sobre o “Massacre da Vila da Palha”. O projeto que prometia a redenção e
a integração nacional deixou de ser prioridade do Estado brasileiro nos anos
subsequentes à inauguração e os discursos oficiais se esforçaram em produzir um
apagamento dos conflitos, desencontros e resistências durante sua
implementação. Em 1988, a Rurópolis Presidente Médici se emancipou
politicamente e tornou-se município preservando apenas o nome de RURÓPOLIS.
A antiga área ocupada pela Vila da Palha é hoje conhecida como os bairros
periféricos da Serraria e do Leitoso, residência dos trabalhadores e
trabalhadoras da cidade.
Vale ressaltar, que no período de 1972 (ano que começou a chegar os funcionários para a construção iniciais das casas e ruas, ou seja, o começo da infraestrutura) à 1988, o INCRA era o responsável por tudo. Telefone, luz, água, etc., tudo era de responsabilidade do INCRA e não tinha ônus pelo usufruto.
Agencia do Banco da Amazônia |
O INCRA construiu
uma serraria de última geração, de onde tirava as madeiras para a construção
das casas dos funcionários, escritório, etc. Nas dependências da serraria,
tinha três Caldeiras à lenha (Locomóveis), que abastecia de energia, tanto a
serraria, como toda a Rurópolis. O INCRA construiu ainda um sistema de
abastecimento de água, para fornecer água gratuitamente às casas dos
funcionários e mais tarde, para toda a população (ainda é usada até os dias de
hoje). O INCRA agia como hoje age a
Prefeitura. O Executor (chefe das Unidades Avançadas), tinham o poder que um
prefeito tem hoje. Nesse período, foi difícil o crescimento, haja vista, que o
INCRA proibia a construção de residências particulares. Posteriormente foi
liberado, mas as construções tinham que obedecer ao padrão exigido, e as
pessoas achavam demasiado caro.
MUITOS
DIZEM QUE A CONSTRUÇÃO DAS RODOVIAS E A COLONIZAÇÃO, FOI UMA UTOPIA. NA MINHA
HUMILDE OPINIÃO, O INCRA E AS RODOVIAS TROUXERAM MUITA PROSPERIDADE PARA TODOS
AQUELES QUE REALMENTE QUISERAM TRABALHAR. TEMOS EXEMPLOS DOS DOIS LADOS DA
MOEDA...
Em
tempo: Amanhã, sábado, postaremos outra matéria referente aos 50 anos, contando
um pouco do que aconteceu após a emancipação...
Texto de Magno Michell Marçal Braga com complementação de H. Marinho
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