terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

CRÔNICA DO JOE: MEMÓRIAS INFANTIS...

Praça Cívica
Hoje, Jeovan Mattos, o "Joe", relata um caso verídico que se passou há muitos anos atrás. Um caso triste, mas que mostra um pouco o quanto era dificil a vida no pós início da Rurópolis. Digo pós início, já que no início tudo era fartura, haja vista, tudo ser bancado pelo governo Federal. Com o crescimento da população as coisa começaram a "desandar" e as dificuldades começaram a aparecer. E uma das dificuldades era a energia para todos...
Nos anos 80 nossa casa e de 90% dos moradores em Rurópolis funcionava a luz de velas e lampiões. Somente os funcionários do INCRA e outros privilegiados possuíam luz elétrica. Vivíamos no ESCURO que ILUMINA. No final dos anos 80, começaram a colocar postes nas ruas e sonhávamos com o advento da Luz Elétrica. Posteriormente, chegou um Gerador enorme e Azul e foi instalado ao lado da CIBRAZEM. Quando inauguraram o gerador e a luz finalmente chegou foi uma FESTA. Meus pais fizeram trocentas orações de agradecimento a Deus pela chegada do Anjo Aladim. A alegria durou pouco, pois o motor começou a apresentar problemas. Funcionava um dia sim, vinte dias não e nos acostumamos ver o motor sendo colocado numa carreta para o conserto. Depois de vários meses, trouxeram outro gerador menos pior. Me lembro que ouvíamos o barulho do operador tentando ligar a máquina. Num maldito dia, quando o motor foi ligado as 18h00min, ouvimos um barulho de uma EXPLOSÃO e havia labaredas de fogo. Escutamos gritos de SOCORRO.
Chegamos ao local e o gerador Gigante estava em chamas. Lá dentro sabíamos que aquele senhor calmo manso e surdo (tinha surdez) estava morto carbonizado. Não havia bombeiros para aplacar o fogo. No dia seguinte, vimos um boneco tostado exposto nas cinzas.
O boneco humano queimado e IRRECONHECÍVEL foi enterrado e o gerador foi removido.
Continuamos no escuro por muitos meses. A luz elétrica chegou muitos anos depois naquela cidade.
Aquele profissional MORREU por nós.
Morreu no anonimato.
Foi enterrado no anonimato. Na rua 9 eu escutei o CLAMOR DE SOCORRO enquanto ele era ENGOLIDO PELO FOGO CONSUMIDOR.
Narrei um acontecimento triste numa noite TRISTE que culminou numa manhã triste e reflexiva.
Qual o nome daquele MÁRTIR?
Lembro dele sem camisa e de bigode sentado na frente da casa do gerador.
Ele é surdo, diziam as crianças.
Memórias infantis.
Joe


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