Doutor Ary Vital com o garoto Mateus Kossmann da Rosa |
- Ei, Delegado. Vem aqui.
O menino gritava me dando
uma ordem. Era quase uma intimação. Entretanto, pelo sorriso no rosto dele
percebi que não era bronca. Pelo menos ainda não era.
- Fala Mateus. Que desespero
é esse? Perguntei.
- Você sabe fazer uma pipa?
Ele perguntou.
- Em tese...em tese...
- O que é isso? Em tese?
Coçando a cabeça, ele me perguntava.
- Acho que sim Mateus. Eu
Respondi, mas desta vez quem coçava a cabeça era eu.
- Você não sabe fazer uma
pipa. Ele falou com uma certeza de que
eu realmente não sabia fazer uma pipa.
Olhei rapidamente o que
tinha na mesa e descrevi o que, aparentemente, era necessário para fazer uma
pipa.
- Mateus. Eu sei fazer uma
pipa. E faremos uma rapidamente aqui, pegue: papel de seda, plástico para fazer
o rabo, fio, cola e tala. Ei, também pegue uma lata para enrolarmos o fio.
- Delegado! Você não sabe
fazer uma pipa.
- Por quê? Como sabe?
Perguntei.
Ele com um sorriso frouxo,
mostrando aqueles dentinhos frontais separados, com as bochechas vermelhas, com
um ar de general do mais alto escalão e renome me disse:
- Primeiro: Não é fio. É
linha. Segundo: Não é rabo. É rabada.
Pronto. Fui pego em flagrante.
Descobriram que nunca fui um apanhador de pipas, muito menos de fazedor
delas. Ele me ralhou. Disse que todo
menino sabe fazer uma pipa. Mas ao mesmo tempo com uma ternura me pegou pelas
mãos e foi me ensinar.
- Vou te ensinar. Afirmou
Mateus.
E fui me juntar com mais
duas crianças que estavam montando uma pipa. Foi o que eles me disseram, mas
para mim aquilo era um papagaio, porém, na altura do campeonato eu já não sabia
mais de nada, já que a minha época e menino de bola de gude jogada em cima do tapete,
eu gostava mesmo de brincar de Atari (vídeo game), juntar toda aquela galera do
bairro na sala de casa, ligar a televisão, montar as equipes, cada um com seu
controle na mão e começar o jogo. Naquela época queimamos muitos televisores
pelas horas de jogo o que levavam a um superaquecimento.
- Delegado. Por favor, pega
aí para mim. O inajá?
- O quê? Perguntei.
- A tala. Ele respondeu.
- Hum... Vamos fazer uma
pausa para jogar o termo Inajá no google, atualmente nosso pai dos burros. Então vamos lá: A Wikipédia, a enciclopédia
livre, me diz que: Inajá (Maximiliana maripa) é uma palmeira de até 20 metros,
nativa do estado do Pará. Possui estipe anelado, com ótimo palmito, folhas
dispostas em cinco direções, inflorescências interfoliares, frutos com polpa
suculenta, comestível, e amêndoa de que se extrai óleo amarelo, também
comestível. Também é conhecida pelos nomes de anaiá, anajá, aritá, inajazeiro,
maripá e najá. 2. Nome de uma índia brasileira (origem Tupí). Segundo folclore
brasileiro, Inaiá era uma linda índia que reinava nos boques e matas do Brasil
como uma representação de Eva, a mulher original, símbolo de graça e inocência,
beleza e poesia. Em alguns lugares do nordeste, a palmeira ''Copernicia
prunifera'', mais conhecida como Carnaúba ou carnaubeira também é chamada de
Inajá.
E como uma passe de mágica
aqueles meninos fizeram um papagaio, isto é... uma pipa, aliás...uma rabiola.
Sei lá, para mim não tem diferença alguma.
- Que bonito! Parabéns. Eu disse.
- Aprendeu Delegado?
Perguntou Mateus.
Enquanto isso...Rafael e Max
concentrados já fazendo outra Pipa e rindo de mim.
- Tem que fazer o peitoral.
Dá uma apertada aí, meu. Falou Rafael.
- Acabou? Perguntei.
- Nada...Disse Mateus.
- O que falta o cerol?
Perguntei, pensando que eu estava abafando.
- Delegado, você não sabe
que cerol está proibido. A gente não usa cerol. Pode cortar o pescoço de alguém
e ferir a gente mesmo.
É verdade... Tomei uma aula dos meninos mais uma vez, inclusive
de conscientização e cidadania. E desde já lembrando que o uso do cerol é
proibido expressamente, em alguns municípios do Brasil, por meio de lei
municipal que responsabiliza os pais pela prática dos filhos além das demais
implicações penais e civis.
- Mas vocês sabem fazer
cerol? Perguntei.
Eles silenciaram... Um
silêncio Sepulcral, mas tão barulhento. Enquanto isso, mais uma pausa e vamos
pesquisar o que é cerol no google. A Wikipédia, a enciclopédia livre, me diz
que o cerol tradicional é uma mistura de pó de vidro (normalmente de bulbos de
lâmpadas) com cola, porém existem também varias modificações do cerol. Uma
delas é substituir o vidro por pó de ferro, que é facilmente adquirido em
serralherias. A fusão do ferro pelo maçarico deixa cair no chão um minúsculo
pó, que, com o tempo, vai se criando no local uma vasta massa de pó. Esse
material é retirado por vendedores de cerol e por pipeiros regularmente fora
dos olhos da polícia. Esse material é misturado a cola-de-sapateiro ou cola de
madeira. Por causa da presença do ferro, as linhas impregnadas com esta
variante de cerol conduzem a eletricidade facilmente. Basta um único contato da
linha com os fios de alta tensão para que a pessoa seja eletrocutada. Mesmo
sendo mais perigosa, a mistura com pó de ferro é menos utilizada do que a
mistura feita com vidro.
- Mateus, o que está
faltando para acabar então? Perguntei.
- Colocar a pipa para
voar... Ele respondeu.
- Então vumbora. Eu disse.
- Calma Delegado, deixa
Secar. Vem de tarde que eu vou te mostrar.
Pois bem, no período da
tarde eu fui e lá estava a pipa pronta para voar. Mas, já não me atrevi
perguntar mais nada, deixei o menino e sua pipa e fiquei observando ele pegar
impulso, correr e colocá-la no ar.
- Parabéns, Mateus. Foi uma
aula. Achei minha história desta semana.
E vendo aquela pipa no ar,
eu pensei...o seu nascimento passou por todo um processo de criação para estar
ali, com várias etapas e cada componente seu, fora escolhido com zelo, atenção,
carinho e acima de tudo, criada com o coração cheio de confiança, paciência e
fé de um menino, que acreditou que suas escolhas dariam certas e que o objetivo
final seria alcançado. A pipa estava pronta para felizmente voar e brincar no
céu sob o olhar cuidadoso de seu criador.
Filosofando com meus botões
me interroguei e cheguei a uma conclusão que a pipa que criei tal qual aquele
menino também já estava pronta para voar.
- Mateus, posso contar esta
história nas minhas crônicas? Perguntei.
- Pode. Teu pai deixa?
Perguntei.
- Deixa. Coloca logo. Ele
disse.
Claro que eu falei com os
pais dele e dos outros, certo! Tudo numa boa.
- Escreve aí, delegado, meu
nome.
- E qual é garoto?
Perguntei.
- Mateus Kossm da Rosa. Ele
disse.
- Como é? Perguntei.
- K-O-S-S-M. É um nome muito difícil doutor.
- Tá certo.
Então amigos, grande abraços
para vocês, deixo registrado meus parabéns para você Mateus Kossm e para Raffael da Rosa e Max Lobo,
aprendi muito com vocês neste dia. Meus leitores amados, bom final de semana e
aquele abraço de urso.
COMENTÁRIO NOSSO: Parabéns! Gostei da crônica! Uma brincadeira com uma mensagem. A Pipa, papagaio, pandorga, rabiola, ou seja o nome que você conhece, faz parte da infância, mas deve ser brincada no lugar apropriado e sem o cerol.
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