quarta-feira, 15 de abril de 2020

CRÔNICA: NESTE HOJE, VOU ADULAR MINHA AMIGA PACIÊNCIA A PERMANECER COMIGO MAIS UM POUCO.


Autor: Emanuel Figueira
Aproximo-me da minha janela e vejo a rua quase sem ninguém.
O dia está claro!
Eu, como todos, estou vivendo estes dia "diferentes" por aqui em decorrência da pandemia que se espalha pelo mundo.
No início eu pensava que o alarme que soava era exagerado ou escondia algo de nefasto nos bastidores infernais da política mundial e nacional. E este segundo viés ainda não se apagou do meu "felling".
Mas, aos poucos, eu fui percebendo que lá fora havia um perigo real. E era um perigo sério, confuso e preocupante.
O noticiário jogava aos lares medo, indicava meios de prevenir contra tal doença, falava mal do governo ou tentava de forma exagerada insuflar a confusão na cabeça dos cidadãos.
Procurei permanecer "em casa!"
E o isolamento fez com que eu tivesse a impressão de que o tempo andava mais devagar. E nesse compasso, e diante da escuridão "de informações corretas", busquei manter os sentidos bem aguçados na busca daquilo que eu perceba como correto daquilo que eu compreendo que é confusão.
Aqui, neste período do inverno amazônico, uns dias são de chuva e temos um clima mais ameno; outros dias vêm o sol e temos novamente calor forte.
O receio que me passam a todo instante faz com que eu imagine que se eu cruzar o umbral da minha porta de saída, um monstro assustador pode me atacar impiedosamente.
E esse é o alarde que ecoa aqui no meu rincão também.
Aqui dentro do apartamento tudo pareça normal.
Lá fora, do mesmo modo, tudo parece tranquilo.
Ouço os barulhos da rua, os gritos de crianças da vizinhança; ora chove, ora o céu se ilumina e vem o sol; buzinas chamam minha atenção, os cães ladram, as sirenes de alarmes próximos, aqui e acolá disparam com seu sinistro aviso de perigo ou anormalidade.
Situo-me!
E, mais e mais vou compreendendo a gravidade da situação, do perigo invisível que me ronda e que amedronta a todos nós. Logo, algo lúgubre, sinistro, imperceptível atravessa o meu pensamento.
Penso em mim,
Penso nos meus.
Penso nos outros até onde minha imaginação alcança.
Paralisado, perplexo sem ação só imagino que devo fazer bem a minha parte. Aliás, que todos nós deveremos fazer a nossa parte neste processo de prevenção contra esse gigante ainda desconhecido que ronda as nossas casas como um malfeitor endemoniado e sem compaixão.
E os hospitais? Como estarão?
Mas a vida continua e a morte também.
Em isolamento a monotonia tenta entrar, mas o tilintar do telefone avisa que no whatsapp alguém encaminha uma nova notícia; que está trazendo uma brincadeira, uma música, um canto sacro, uma foto de uma paisagem bonita, um áudio de incentivo, uma repreensão, um quadro de família, ou até uma foto erótica…
Meus filhos não estão mais aqui.
É claro que sinto falta deles!
Mas...
Estamos sendo envolvidos pelo sintoma do medo ou permanecemos incólumes na nossa indiferença ao perigo e a dor do mundo? - Eu me pergunto.
Eu me pergunto sem bem entender a resposta ou o próximo passo a seguir.
Como o vendaval tenebroso o pandemônio covidico aumenta a tensão. Notícias desencontradas continuam, políticos que não se entendem confundem nossa percepção, a medicina e a administração nacional parecem travar uma batalha de titãs sem encontrar um rumo; pessoas incentivando ao caos e outras defendendo bandeira do bem e a tênue liberdade de ir e vir me isolando, separando-nos momentaneamente.
Porém, mesmo nessa celeuma, continua a existir um mundo mutante, bonito e cheio de possibilidades que iremos atrás para viver melhor.
E eu continuo acreditando no hoje buscando coragem e precaução.
Mas por enquanto, neste HOJE, vou adular minha amiga paciência a permanecer comigo mais um pouco.


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