Senhora Laci Sost e o autor |
Estada, vento, estada,
vento, voa pensamento.
Estada, pensamento, vento,
respira, inspira, estrada.
Paisagem parada,
Paisagem, um avestruz, dois
avestruzes, três avestruzes.
Inspira, voa pensamento.
Eu vi mesmo um avestruz?
E deixo de contar passos e
passo a contar dedos.
1, 2, 3.
Qual o plural de avestruz?
Concentra na estrada, menino.
Respira, anda, corre? Mas a
semana foi tão corrida.
E o vento...como gosto da
companhia despretensiosa.
E concentra, vamos andar
mais um pouquinho a Ponte do Lux é bem ali.
Tentava abstrair muitas
coisas barulhentas que povoavam a minha mente.
O vento, a estrada, respira,
inspira, concentra, e... de novo lá vinha a imagem daqueles avestruzes.
E não teve como, pois quando vi, eu me peguei pensando de novo naquele bicho de penas e pernas compridas andando por ali, me olhando estranhamente.
Paranóia.
E caminhava e pensava:
Quanto tempo vive um avestruz? 50 anos? Talvez, um bicho desse deve ter 2,5 m
de altura e pesar uns 100 kg.
E caminhava...e pensava...e
respirava...tenho que tirar esse bicho da minha cabeça. Será um sinal? Será que
devo fazer uma aposta no animal play (jogo do bicho)? Logo eu que nem apostar
eu sei.
Senhora Laci Sost e Professora Neuza |
E quando vi, não era mais só
o vento comigo, mas o avestruz que não saia da minha mente. Chega...fim... Não
quero mais saber de bicho. Não terei essas respostas mesmo. Quero apenas
caminhar, só isso, tudo nua boa...então, respira e deixa a estrada dizer o
caminho.
Estada, vento, estada,
vento, pensamento.
Estada, pensamento, vento,
respira, estrada.
Paisagem parada,
De repente um rosto amigo
que me fez parar. Eu também a fiz parar na sua bicicletinha.
-Dona Laci Sost, quanto
tempo! Como vai.
-Doutor Ary. Não tinha mais
lhe visto.
E ela um pouco mais falante
me contou uma saga. Vou tentar resumir até porque não entendi muito bem algumas
partes da história. Dona Laci fala muito rápido carregando o “r”.
- Doutor não pude mais levar
cupuaçu para o senhor, pois estou enfrentando um problema sério. Os macacos
estão destruindo tudo na minha chácara. Quebram os cupuaçus, estragam as
frutas, destroem as coisas, carregam tudo. Tenho que correr com a vassoura para
espantá-los.
E ela falou, falou, falou...
E eu não entendi muito,
enquanto isso, da parte que eu entendi, uma seqüência de imagens se formavam na
minha mente. Enquanto eu preocupado com a vida do avestruz, a minha amiga
enfrentando uma horda de macacos selvagens e audaciosos.
- Doutor Ary, o senhor não
ta entendendo né?!
E de repente, não me
contive, sorrimos um do outro. E era o riso que precisava. Até que ela subiu na
sua bicicletinha e pegou a estrada seguindo em direção a Santarém.
É já são quase 8 horas,
vamos voltar para o centro, outro dia sigo um pouco mais adiante.
Estada, vento, estada,
vento, pensamento.
Estada, pensamento, vento,
respira, inspira, estrada.
Passos largos, acelera,
esquece o avestruz.
Passos de avestruz, esquece
o avestruz, olha a macacada.
Esquece a macacada.
No meio do caminho...
- Doutor Ary, o senhor gosta
de açaí? Pegue logo um litro. Doutor, vou matar um porco e vou lhe convidar
para comer com a gente lá no sítio.
- Obrigado Senhor Domingos, eu vou aguardar.
Estada, vento, estada,
vento, pensamento.
Estada, pensamento, vento,
respira, estrada.
E no final eu pensei é um
sinal! Mas porque eu? Afasta de mim esse cálice! Eu só vim dar uma caminhada na
estrada.
Estada, pensamento, vento,
respira, inspira e de vez em quando pira.
Agora lascou é de vez
enquando ou de vez em quando?
Respira e exorciza, segue em
frente e fim de jogo.
Controlando a minha maluques,
misturada com minha lucidez, entre o real e o imaginário, entre a verdade e a
fantasia aqui contada, o que eu já nem sei mais, encerro a crônica do dia. Um
beijo à todos, fiquem com Deus. Ary
Vital Filho.
Testemunha
ocular desta história: Professora Neuza.
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