Neubert e o cronista |
Há um pensamento muito bem
posto por Jean de La Fontaine (1621 - 1695), poeta e fabulista francês, nascido
em Château-Thierry, Champagne, considerado o pai da fábula moderna que diz o
seguinte: “As pessoas que não fazem barulho são perigosas”.
Pois bem, foi por causa de
um “barulho”, isto é, um conjunto de sons indesejáveis, desagradáveis e
perturbadores, que deu início ao nascimento de uma amizade. Lembro-me muito bem
daquele dia, quando um jovem me indagou:
- Doutor, estava na minha
casa ouvindo música, quando os “Homens” ali chegaram e foram me levando. Ei,
Qual o limite para ouvir um som?
Respondi à Neubert:
- O critério de distinção
entre o som e o agente perturbador é variável, quando não se tem um medidor
para tanto, uma vez que depende muito do fator psicológico de tolerância de
cada indivíduo. Eu, por exemplo, não gostaria de ter um vizinho barulhento, me
incomodando, enquanto assisto a um programa de televisão. Contudo, nem sempre
vou chamar os “Homens”, vai depender muito do dia, do estresse, do grau de
irritabilidade e tolerância. Mas também, convenhamos o vizinho do lado ou da
frente de casa, não é obrigado a ter o mesmo gosto musical que eu, logo, não se
precisa torcer o botão do aparelho de som até chegar ao último volume para que
ele também escute. Não é verdade? É verdade sim.
Os conselhos foram
transmitidos e problemas resolvidos. E depois daquele contato, no cotidiano,
aos poucos, fui conhecendo a pessoa daquele nobre “barulhento” como um grande
ser-humano cheio de virtudes, dentre elas a generosidade e disponibilidade para
ajudar o próximo.VEJA A MATÉRIA COMPLETA CLICANDO ABAIXO.
No final do mês de julho,
com o nível de estresse alto, precisei realizar um deslocamento do município
com urgência e, quem foi a primeira pessoa para quem telefonei? Respondo, foi
para ele Neubert barulho. VEJA A MATÉRIA COMPLETA CLICANDO ABAIXO.
- Neubert. Como vai? Preciso
de informação sua. Por um acaso, nesses dias você não irá a Santarém? Preciso
de uma carona e não acho.
- Já achou Doutor. Eu te
levo.
E assim foi, pegamos a
estrada pela manhã e muitos “causos” me foram contados, inclusive quanto aquele
dia “fatídico” em que o som de Neubert foi apreendido. Ria muito, pois da forma
que ele me narrava parecia que era um filho que estava sendo arrancado de seus
braços naquele dia.
- Doutor, gosto de música e
de tomar minha cervejinha numa boa. Sem mexer com ninguém. Era o que eu estava
fazendo naquele dia.
Ele me disse:
- Tá explicado, Neubert.
Aparelhos sonoros e músicas não combinam, pois, pode prestar bem atenção,
bebida alcoólica causa surdez momentânea.
Eu fazendo uma cara séria,
brincava com Neubert.
- Como assim?
Ele perguntou:
- Pode prestar atenção, a
medida em que a pessoa vai ingerindo bebida alcoólica e se estiver de posse,
naquele momento, de um carro som automotivo ou um aparelho de som ligado dentro
de casa, parece que um dos efeitos primeiros efeitos do álcool é atingir de
pronto a área do cérebro que controla a percepção dos sons. A pessoa vai
ficando surda, surda, surda e, quando percebe já tacou os dedos no botão do
volume do som.
- Será?
- Claro que não Neubert. Tô
sacaneando!
- Hum. Vamos ouvir um som?
- Vamos, moderadamente.
Mas antes, ele me explicou
todo o funcionamento daquela aparelhagem acoplada naquele veículo. Além, disso,
ainda me deu uma aula de lanternagem e pintura. Não entendi nada, mas onde não
há pecado não há perdão. Então, tenho um desconto, pois, este jovem
empreendedor, com apenas 25 anos, trabalha desde os treze anos com tudo isso,
somente me restando a ouvi-lo narrar seus feitos de como deixar carros em
perfeitos estados após sofrerem avarias na sua lataria. É, cada um na sua arte.
- Neubert, porque teu nome é
Neubert?
Perguntei e ele me
respondeu:
- Coisas de meu pai Nemésio
Martins de Santana, ele que me deu esse nome, mas, a minha mãe queria que eu me
chamasse de Roberto.
Perguntei de novo:
- Ok, e porque ficou
Neubert?
E na lata ele me respondeu:
- Uai, porque ficou!
- Certamente tu preferias
que fosse Roberto.
- Não doutor, eu gosto do
meu nome Neubert. É quase um nome de astro, não achas?
- Pensando bem, você tem
razão.
- E aí vamos ouvir um som?
- Coloca aí o que você tem.
- Ah, o senhor vai adorar
minha seleção de Forró, Melody e Sertanejo. Adoro a banda 007.
E fui pela estrada ouvido as
preferências musicais de Neubert durante todo o trajeto. Até hoje tem uma
trecho de uma música que nunca me saiu da cabeça: “Faz cara de rica, faz cara
de rica. Só fica provocando, porque sabe que é bonita. Faz cara de rica, faz
cara de rica. É perigosa, é um veneno essa menina”.
- Doutor, o senhor está
gostando?
- Nossa, nem imagina!
Falei levantando uma das
sobrancelhas, porém, logo embarquei na viagem musical de Neubert, pois, meu
tempo de chato com “x”, já se foi há muito tempo. E no final das contas, eu
tive um dia divertidíssimo, inclusive, algumas músicas já até entraram para
minha seleção, outras ficaram grudadas como “chiclete” na parede da memória. A
cantora Ana Carolina que sabiamente nos poetizou, num trecho de uma de suas
canções: ”Eu só quero saber em qual rua minha vida vai encostar na tua”.
Chegamos bem em Santarém e
ainda sobrou tempo para uma estilosa selfie .
- Tchau Neubert. Valeu. Já
vai voltar para Rurópolis?
- Sim.
- Já?
E nunca mais vou me esquecer
da resposta de Neubert, antes de partir:
- Doutor, a minha vida
sempre foi uma aventura.
É, La Fontaine tinha razão:
“As pessoas que não fazem barulho são perigosas”. Eu que o diga! Aos poucos a
vida tem me mostrado o momento de fazer barulho e de silenciar. E o meu
silêncio é ensurdecedor.
Neubert Erico da Silva
Santana, obrigado por sua disponibilidade, pelas histórias e pela viagem
musical. Inesquecível. Que Deus abençoe
sempre tua vida. Abraços.
E finalizando:
Entre o real e o imaginário,
entre o silêncio e o barulho, entre a verdade e a fantasia aqui contada, o que
nem eu já sei mais, encerro a crônica da semana. Um beijo à todos, fiquem com
Deus e até semana que vem. Ariosnaldo da Silva Vital Filho.
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