Senhora Eliana Zanotto, com Doutor Ary que mostra o livro de sua autoria |
“Um livro aberto é um
cérebro que fala. Fechado é um amigo que espera. Esquecido, uma alma que
perdoa. Destruído, um coração que chora (Pe. Antônio Vieira)”.
É verdade. Sempre bom estar
na companhia deles. Sou apaixonado por livros. Nunca saíram de moda e nos
tempos modernos, de globalização e clicks, eles também tiveram que se adaptarem
e vestir uma nova roupagem para serem expostos em estandes virtuais. Alguns
leitores o preferem assim, já outros, como eu, ainda os quer em fileiras nas
estantes ou espalhados em cima da mesa, para poder tocá-los, senti-los com todo
meu tato, olfato e quiçá, engoli-los com a visão, devorando o conhecimento ali
aprisionado, virando e revirando a página, até que se possível se chegar ao seu
final.
No minha visão radical, me
perdoem muitos do que vou dizer, inclusive, toda a poesia do Pe. Antônio, pois,
talvez, poucos concordem comigo, livros fechados para mim são verdadeiras
sepulturas, túmulos mausoléus de conhecimentos aprisionados que gritam por liberdade.
Nos dias atuais em que tudo
é muito instantâneo, dinâmico e fugaz, poucos ainda param para ler um livro,
fazendo uma higiene e recarga da alma. O ato de Libertar o conhecimento fica
sempre para depois, quando não sufocado, em razão das preocupações diárias.
Certa vez, ainda naquela minha fase de transição da idade infantil para a
adulta, com minhas memoráveis preguiças em ler e até virar a página de um
livro, ouvi minha mãe dizer: “Meu filho, o conhecimento é tão leve, porque
podes perder tudo na vida, mas se você tiver conhecimento, irás levá-lo para
qualquer lugar e se reconstruir sempre”. Nunca me esqueci disso, pura sabedoria
materna.
Ontem à noite, sem querer
acabei escutando uma canção de banda Cidade Negra, intitulada de “Pensamento”.
Mexeu com as minhas mais remotas memórias, deixadas num baú, lá pelos anos 90.
Daí nasceu a crônica da semana, pois a música, sem dúvida é letra e poesia.
E no dia de hoje, “pensei”
vou visitar a biblioteca de Rurópolis. Cheguei assim sem avisar e meio sorrateiro,
eram 11hs30min e a primeira cena que vi ao entrar era uma jovem à mesa lendo um
livro.
- Bom dia. Qual o seu nome?
- Eliana Maria Zanotto.
- Como vai Eliana?
- Vou bem doutor.
Ao perceber uma certa
agitação com a minha presença, eu disse:
- Eliana, não se preocupe,
estou vindo em missão de paz, eu resolvi hoje visitar a biblioteca de
Rurópolis, já há um tempo que não venho aqui. E gostaria de ver alguns livros,
saber das novidades e também escrever minha crônica da semana.
- Pois não doutor.
E gentilmente foi
reapresentado a biblioteca pela agente administrativa. Fiquei muito feliz pro
saber que havia mais de 8 mil livros catalogados e somente de visitantes já se
contava 8.476, comigo 8.477. Fui informando que somente no ano passado houve registro
de 17.121 visitantes. Há também um acervo de DVDS para crianças e uma gibiteca.
Então, percebi que havia ainda pessoas dispostas a violar “Sepulturas” postas
nas estantes e que o conhecimento era vivo, pairava no ar, até muitas vezes,
saía para dar uma volta na cidade e na casa de muitos.
De repente:
- Bom dia.
Ouvi um cochicho e a
pergunta “o que o delegado esta fazendo aqui?”, então respondi:
- Bom dia, como vai?
- Qual sua função amigo?
- Francisco Bispo dos
Santos. Tudo bem?
- Sim, você trabalha aqui?
- Sim. Sou professor
atendente, auxilio os alunos, trabalho com projetos e pesquisas, ajudo na
catalogação de livros, etc.
- Então amigo, vamos ver
alguns livros.
E foi assim passei algumas
horas tranquilas, perdido no tempo, abrindo “túmulos”, com muitas informações e
conhecimentos. Ah, também me deparei com surpresas agradabilíssimas, dentre
elas, mantive o primeiro contato com obras de escritores locais e de outros
municípios. Emocionante.
- Doutor, o senhor conhece
este?
- Qual?
E quando me deparei, percebi
que parte de mim ainda estava eternizada ali. Dizem que um homem é completo
quando ele planta uma árvore, escreve um livro e tem um filho. Bem, somente me
falta o terceiro quesito.
Encontrei livros que jamais
pensei em encontrar como Casa-Grande e Senzala de Gilberto Freire, que consiste
num marco da história literária, pelo documentário ali posto e o Holocausto sob
a ótica de Gerald Green, dentre outros.
Mais feliz ainda pelo
contato com as obras de nossos escritores locais, aos quais parabenizo. Sei que
não é anda fácil pegar uma linha de pensamento ainda na fase embrionária,
alimentá-la e depois, já robustecida, coordená-la, produzi-la, materializá-la e
a tornando pública. Isso é para poucos, pois muitos desistem no caminho,
principalmente pela falta de incentivo financeiro e reconhecimento. Eu
sinceramente procuro não ser critico, pois o mundo esta cheio deles, por isso,
prefiro ser um incentivador. Taí bem que poderíamos marcar um encontro!
Antes de finalizar, digo:
bom mesmo é virar a página, pois somente assim a história anda, chega-se a um
final. Como já disse eu gosto de finais, as pessoas precisam deles, pois eles
são importantes para as continuações. E foram tantos capítulos na minha vida,
inclusive nesta cidade que nem eu sou mais o mesmo do início da história e quem
o é?
Peraí, será que ainda temos
tempo para um último diálogo? Não se perguntaram quem é a jovem sozinha que lia
um livro à mesa?
- Oi? Qual o seu nome?
- Thaís Barbosa.
- Você o que você está
lendo? Ficou bem de recuperação né?
Fiz uma cara sarcástica.
- Não. Sou Acadêmica de
Enfermagem na UEPA e estou estudando para o ENEM. Eu quero fazer o Curso de
Direito também.
E eu somente comigo, em
pensamento: “Toma-te abestado”.
- Fico feliz de ouvir, terei
uma futura colega de Curso. Te desejo o maior sucesso do mundo, porque pelo
visto dedicação, vontade de vencer e disciplina você já tem. Certamente, irás
conseguir. Não te desejo sorte, porque ela sempre está com aqueles nasceram
para brilhar, porque o que é seu, de um jeito ou de outro vai encontrar o
caminho até chegar em ti.
- E tu Francisco Bispo?
- Eu fiz pedagogia e
especialização em psicopedagogia.
Mais uma vez me calo e
somente em pensamento para mim mesmo: “Toma-te abestado, podia dormir sem
essa”.
Falando sério agora “Navegar
é preciso e Ler é fundamental”. Todos nós somos responsáveis por isso, vamos
criar o hábito da leitura, difundir e incentivá-la, quiçá, embora todas as
adversidades locais e sem muito esperar dos outros, mas sim de você mesmo,
vamos produzir textos, poemas, poesias, teses, artigos, histórias, relatos
documentais, doe livros, faça circular o conhecimento. Visite a nossa
biblioteca JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO, localizada na Av. J.K, nº 180, fundada
em 1989.
A Eliane Zanotto e Francisco
Bispo, obrigado pelas horas memoráveis e agradeça por mim a Coordenadora Maria
Viene Rodrigues de Almeida. Parabenizo todos vocês pelo excelente trabalho.
E finalizando:
Entre o real e o imaginário,
entre páginas virtuais ou de papel couchê, entre a tela do computador ou de
prateleiras, entre a verdade e a fantasia aqui contada, o que nem eu já sei
mais, encerro a crônica da semana. Um beijo à todos, fiquem com Deus e até
semana que vem. Ariosnaldo da Silva Vital Filho.
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