sexta-feira, 17 de julho de 2015

CRÔNICA DA SEMANA: VIRE A PÁGINA

Senhora Eliana Zanotto, com Doutor Ary que mostra o livro de sua autoria
“Um livro aberto é um cérebro que fala. Fechado é um amigo que espera. Esquecido, uma alma que perdoa. Destruído, um coração que chora (Pe. Antônio Vieira)”.

É verdade. Sempre bom estar na companhia deles. Sou apaixonado por livros. Nunca saíram de moda e nos tempos modernos, de globalização e clicks, eles também tiveram que se adaptarem e vestir uma nova roupagem para serem expostos em estandes virtuais. Alguns leitores o preferem assim, já outros, como eu, ainda os quer em fileiras nas estantes ou espalhados em cima da mesa, para poder tocá-los, senti-los com todo meu tato, olfato e quiçá, engoli-los com a visão, devorando o conhecimento ali aprisionado, virando e revirando a página, até que se possível se chegar ao seu final.


No minha visão radical, me perdoem muitos do que vou dizer, inclusive, toda a poesia do Pe. Antônio, pois, talvez, poucos concordem comigo, livros fechados para mim são verdadeiras sepulturas, túmulos mausoléus de conhecimentos aprisionados que gritam por liberdade.

Nos dias atuais em que tudo é muito instantâneo, dinâmico e fugaz, poucos ainda param para ler um livro, fazendo uma higiene e recarga da alma. O ato de Libertar o conhecimento fica sempre para depois, quando não sufocado, em razão das preocupações diárias. Certa vez, ainda naquela minha fase de transição da idade infantil para a adulta, com minhas memoráveis preguiças em ler e até virar a página de um livro, ouvi minha mãe dizer: “Meu filho, o conhecimento é tão leve, porque podes perder tudo na vida, mas se você tiver conhecimento, irás levá-lo para qualquer lugar e se reconstruir sempre”. Nunca me esqueci disso, pura sabedoria materna.


Ontem à noite, sem querer acabei escutando uma canção de banda Cidade Negra, intitulada de “Pensamento”. Mexeu com as minhas mais remotas memórias, deixadas num baú, lá pelos anos 90. Daí nasceu a crônica da semana, pois a música, sem dúvida é letra e poesia.

E no dia de hoje, “pensei” vou visitar a biblioteca de Rurópolis. Cheguei assim sem avisar e meio sorrateiro, eram 11hs30min e a primeira cena que vi ao entrar era uma jovem à mesa lendo um livro.

- Bom dia. Qual o seu nome?

- Eliana Maria Zanotto.
 

- Como vai Eliana?

- Vou bem doutor.

Ao perceber uma certa agitação com a minha presença, eu disse:

- Eliana, não se preocupe, estou vindo em missão de paz, eu resolvi hoje visitar a biblioteca de Rurópolis, já há um tempo que não venho aqui. E gostaria de ver alguns livros, saber das novidades e também escrever minha crônica da semana.


- Pois não doutor.

E gentilmente foi reapresentado a biblioteca pela agente administrativa. Fiquei muito feliz pro saber que havia mais de 8 mil livros catalogados e somente de visitantes já se contava 8.476, comigo 8.477. Fui informando que somente no ano passado houve registro de 17.121 visitantes. Há também um acervo de DVDS para crianças e uma gibiteca. Então, percebi que havia ainda pessoas dispostas a violar “Sepulturas” postas nas estantes e que o conhecimento era vivo, pairava no ar, até muitas vezes, saía para dar uma volta na cidade e na casa de muitos.


De repente:

- Bom dia.

Ouvi um cochicho e a pergunta “o que o delegado esta fazendo aqui?”, então respondi:

- Bom dia, como vai?

- Qual sua função amigo?

- Francisco Bispo dos Santos. Tudo bem?

- Sim, você trabalha aqui?

- Sim. Sou professor atendente, auxilio os alunos, trabalho com projetos e pesquisas, ajudo na catalogação de livros, etc.


- Então amigo, vamos ver alguns livros.

E foi assim passei algumas horas tranquilas, perdido no tempo, abrindo “túmulos”, com muitas informações e conhecimentos. Ah, também me deparei com surpresas agradabilíssimas, dentre elas, mantive o primeiro contato com obras de escritores locais e de outros municípios. Emocionante.

- Doutor, o senhor conhece este?

- Qual?

E quando me deparei, percebi que parte de mim ainda estava eternizada ali. Dizem que um homem é completo quando ele planta uma árvore, escreve um livro e tem um filho. Bem, somente me falta o terceiro quesito.



Encontrei livros que jamais pensei em encontrar como Casa-Grande e Senzala de Gilberto Freire, que consiste num marco da história literária, pelo documentário ali posto e o Holocausto sob a ótica de Gerald Green, dentre outros.

Mais feliz ainda pelo contato com as obras de nossos escritores locais, aos quais parabenizo. Sei que não é anda fácil pegar uma linha de pensamento ainda na fase embrionária, alimentá-la e depois, já robustecida, coordená-la, produzi-la, materializá-la e a tornando pública. Isso é para poucos, pois muitos desistem no caminho, principalmente pela falta de incentivo financeiro e reconhecimento. Eu sinceramente procuro não ser critico, pois o mundo esta cheio deles, por isso, prefiro ser um incentivador. Taí bem que poderíamos marcar um encontro!



Antes de finalizar, digo: bom mesmo é virar a página, pois somente assim a história anda, chega-se a um final. Como já disse eu gosto de finais, as pessoas precisam deles, pois eles são importantes para as continuações. E foram tantos capítulos na minha vida, inclusive nesta cidade que nem eu sou mais o mesmo do início da história e quem o é?
 

Peraí, será que ainda temos tempo para um último diálogo? Não se perguntaram quem é a jovem sozinha que lia um livro à mesa?

 

- Oi? Qual o seu nome?

- Thaís Barbosa.

- Você o que você está lendo? Ficou bem de recuperação né?


Fiz uma cara sarcástica.

- Não. Sou Acadêmica de Enfermagem na UEPA e estou estudando para o ENEM. Eu quero fazer o Curso de Direito também.

E eu somente comigo, em pensamento: “Toma-te abestado”.


- Fico feliz de ouvir, terei uma futura colega de Curso. Te desejo o maior sucesso do mundo, porque pelo visto dedicação, vontade de vencer e disciplina você já tem. Certamente, irás conseguir. Não te desejo sorte, porque ela sempre está com aqueles nasceram para brilhar, porque o que é seu, de um jeito ou de outro vai encontrar o caminho até chegar em ti.

- E tu Francisco Bispo?

- Eu fiz pedagogia e especialização em psicopedagogia.

Mais uma vez me calo e somente em pensamento para mim mesmo: “Toma-te abestado, podia dormir sem essa”.
 

Falando sério agora “Navegar é preciso e Ler é fundamental”. Todos nós somos responsáveis por isso, vamos criar o hábito da leitura, difundir e incentivá-la, quiçá, embora todas as adversidades locais e sem muito esperar dos outros, mas sim de você mesmo, vamos produzir textos, poemas, poesias, teses, artigos, histórias, relatos documentais, doe livros, faça circular o conhecimento. Visite a nossa biblioteca JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO, localizada na Av. J.K, nº 180, fundada em 1989.


A Eliane Zanotto e Francisco Bispo, obrigado pelas horas memoráveis e agradeça por mim a Coordenadora Maria Viene Rodrigues de Almeida. Parabenizo todos vocês pelo excelente trabalho.


[


E finalizando:


Entre o real e o imaginário, entre páginas virtuais ou de papel couchê, entre a tela do computador ou de prateleiras, entre a verdade e a fantasia aqui contada, o que nem eu já sei mais, encerro a crônica da semana. Um beijo à todos, fiquem com Deus e até semana que vem. Ariosnaldo da Silva Vital Filho.


Nenhum comentário:

Postar um comentário