Logo pela parte da manhã de
hoje, eu fui procurado por uma senhora, da qual peço perdão em não lembrar seu
nome no momento, que, gentilmente, me solicitou que eu escrevesse uma crônica.
- Doutor, quero lhe fazer um
pedido.
- Diga.
- Nada profissional, eu sou
leitora de suas crônicas, são emocionantes e gostaria que o senhor escrevesse
uma para um amigo que partiu, o nome dele é Ronaldo, trabalhava na área da
Saúde.
Disse a ela que não o
conhecia para escrever algo sobre a pessoa, então, ficaria difícil para mim,
escrever algo que não vivenciei. Porém, depois que ela partiu, percebi que na
verdade, eu teria travado, não pelo fato de não tê-lo conhecido, mas pela
temática. Não gosto de falar de morte, eu a deixo quieta no seu canto, pois a ela
mesma se pertence. Aos onze anos de idade perdi um irmão num acidente de carro,
fato este que até hoje marca a vida de minha família. Perdi parentes e grandes
amigos, ora de formas naturais, ora de formas violentas e a partir de vários
momentos, porque ainda não sei conviver com perdas, eu travo, me fecho, me
reviro e me emociono, principalmente, quando conheço a pessoa.
Depois que vi a foto de
Ronaldo no blog, percebi que eu o conhecia, pois, certa vez, ainda no ano de
2008, quando cheguei para trabalhar neste município e assumir os trabalhos de
Polícia Judiciária, eu tive um breve contato com ele, um diálogo de poucas
palavras e um aperto de mão e me lembrei do que ele me disse:
- Então é você o sobrinho do
Dr. Vital. Éramos grandes amigos.
Os olhos e o sorriso não
escondiam a satisfação em me conhecer e aquele aperto de mão, ou melhor, aquela
saudação de aperto forte de mãos, sem dúvida, diferenciado, em segurar com as
suas duas mãos uma das minhas estendidas em sua direção era como se o mesmo
estivesse transmitindo todo o carinho e amizade que nutria pelo meu tio.
Gostaria de ter escrito uma
crônica a altura deste grande homem que serviu o município de Rurópolis.
Gostaria de ter escrito uma
crônica a altura desta pessoa que em vida encantou amigos e somente deixou
risos, trejeitos, frases de efeitos e boas lembranças que hoje aquecem os
corações de muitos.
Gostaria de ter escrito uma
crônica a altura de muitos que conheci neste município e também na minha cidade
natal que de repente embarcaram na GRANDE VIAGEM.
Mas ainda não sou capaz.
Sempre vão faltar palavras e o coração sempre vai estar um pouco menor.
Lembro-me que uns dias antes
do falecimento da minha avó Aida Soares, isto no ano de 2010, ela me perguntava
quando meu livro seria publicado. Ela
era minha maior fã e incentivadora de minhas criações. Infelizmente ela faleceu
antes da publicação, mas a dedicatória a sua pessoa esta nele eternizada in
memoriam.
- Vó não fale isso.
- Meu filho eu já vivi
tanto, vivi amores, ganhei dinheiro e fiz tantas outras coisas tão boas. Você é
jovem e fará tudo isso. Quando eu morrer, um dia você irá chorar?
Eu em prantos (inclusive
agora relembrando isso) apenas balançava a cabeça. E ela com as mãos já
marcadas com o tempo, sabia que era eu que estava ali ao tocar no meu rosto e
senti meus óculos.
- Meu filho, o que você está
cantarolando?
- Uma canção para você viver
mais.
E nos meus devaneios e lhe
disse ainda:
- Vó eu irei para seu
enterro como um galã da década de 30.
- Enterro não. A gente
enterra gato morto, barata e coco. Serei “sepultada”. Não sou coisa para ser
“enterrada”.
Foi quando larguei um sorriso
imenso naquele hospital, ela tinha este dom de me fazer rir nas horas mais
impróprias.
E dias depois ela fez a
grande viagem e me deixou somente coisas boas e um imenso coração repleto de
lembranças.
Para ela, eu gostaria de ter
escrito uma canção, uma poesia, uma crônica e nunca o fiz, por me sentir
incapaz, por travar diante do assunto.
Por isso, temos que deixar
as pessoas sempre com palavras e boas lembranças, nunca saberemos à hora do
nosso embarque. Peço desculpas à senhora que cedo me procurou por ter me
recusado. Perdão. No momento travei.
Para reflexão, eu Termino
deixando um texto da novelista Ivani Ribeiro da novela A VIAGEM.
"Hoje, de algum lugar
longe dessas terras
Há um doce olhar só pra você
Um olhar especial
De alguém especial, de
distantes origens
Um olhar de um justo coração
que pulsa só a vida
Que sorri porque ama plenamente
Sem julgamentos,
preconceitos nem prisões
Hoje, como ontem, longe
desses céus
Há um encantador olhar só
pra você
Nesse olhar vai para você a
magia da luz
A simplicidade do perdão
A força para comungar com a
vida
A esperança de dias mais
radiantes de paz
Hoje, de algum lugar dentro
de você,
Alguém que já o amou muito e
ainda o ama
Diz para você que valeu a
pena ter estado nessas terras...
Sob estes céus...
Falando de união, paz, amor
e perdão
Poder sentir a força que faz
você sorrir
E continuar o caminho
Que um dia aquele doce olhar
iniciou pra você
Tudo isso, só para você
saber que
A VIDA CONTINUA...
“E A MORTE É APENAS UMA
VIAGEM.”
Mensagem final da novela
"A VIAGEM", de Ivani Ribeiro, com colaboração de Solange Castro
Neves, direção de Wolf Maya, Ignácio Coqueiro e Maurício Farias, direção geral
de Wolf Maya.
Exibida de 11 de abril a 22
de outubro de 1994. A primeira versão foi exibida entre 1974/75.
Imagens ilustrativas extraídas do google.
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