terça-feira, 7 de abril de 2015

CRÔNICA DO DIA: UMA CANÇÃO PARA VOCÊ VIVER MAIS



Logo pela parte da manhã de hoje, eu fui procurado por uma senhora, da qual peço perdão em não lembrar seu nome no momento, que, gentilmente, me solicitou que eu escrevesse uma crônica.
- Doutor, quero lhe fazer um pedido.
- Diga.
- Nada profissional, eu sou leitora de suas crônicas, são emocionantes e gostaria que o senhor escrevesse uma para um amigo que partiu, o nome dele é Ronaldo, trabalhava na área da Saúde.
Disse a ela que não o conhecia para escrever algo sobre a pessoa, então, ficaria difícil para mim, escrever algo que não vivenciei. Porém, depois que ela partiu, percebi que na verdade, eu teria travado, não pelo fato de não tê-lo conhecido, mas pela temática. Não gosto de falar de morte, eu a deixo quieta no seu canto, pois a ela mesma se pertence. Aos onze anos de idade perdi um irmão num acidente de carro, fato este que até hoje marca a vida de minha família. Perdi parentes e grandes amigos, ora de formas naturais, ora de formas violentas e a partir de vários momentos, porque ainda não sei conviver com perdas, eu travo, me fecho, me reviro e me emociono, principalmente, quando conheço a pessoa.
Depois que vi a foto de Ronaldo no blog, percebi que eu o conhecia, pois, certa vez, ainda no ano de 2008, quando cheguei para trabalhar neste município e assumir os trabalhos de Polícia Judiciária, eu tive um breve contato com ele, um diálogo de poucas palavras e um aperto de mão e me lembrei do que ele me disse:
- Então é você o sobrinho do Dr. Vital. Éramos grandes amigos.
Os olhos e o sorriso não escondiam a satisfação em me conhecer e aquele aperto de mão, ou melhor, aquela saudação de aperto forte de mãos, sem dúvida, diferenciado, em segurar com as suas duas mãos uma das minhas estendidas em sua direção era como se o mesmo estivesse transmitindo todo o carinho e amizade que nutria pelo meu tio.
Gostaria de ter escrito uma crônica a altura deste grande homem que serviu o município de Rurópolis.
Gostaria de ter escrito uma crônica a altura desta pessoa que em vida encantou amigos e somente deixou risos, trejeitos, frases de efeitos e boas lembranças que hoje aquecem os corações de muitos.

Gostaria de ter escrito uma crônica a altura de muitos que conheci neste município e também na minha cidade natal que de repente embarcaram na GRANDE VIAGEM.
Mas ainda não sou capaz. Sempre vão faltar palavras e o coração sempre vai estar um pouco menor.
Lembro-me que uns dias antes do falecimento da minha avó Aida Soares, isto no ano de 2010, ela me perguntava quando meu livro seria publicado.  Ela era minha maior fã e incentivadora de minhas criações. Infelizmente ela faleceu antes da publicação, mas a dedicatória a sua pessoa esta nele eternizada in memoriam.
- Vó não fale isso.
- Meu filho eu já vivi tanto, vivi amores, ganhei dinheiro e fiz tantas outras coisas tão boas. Você é jovem e fará tudo isso. Quando eu morrer, um dia você irá chorar?
Eu em prantos (inclusive agora relembrando isso) apenas balançava a cabeça. E ela com as mãos já marcadas com o tempo, sabia que era eu que estava ali ao tocar no meu rosto e senti meus óculos.

- Meu filho, o que você está cantarolando?
- Uma canção para você viver mais.
E nos meus devaneios e lhe disse ainda:
- Vó eu irei para seu enterro como um galã da década de 30.
- Enterro não. A gente enterra gato morto, barata e coco. Serei “sepultada”. Não sou coisa para ser “enterrada”.
Foi quando larguei um sorriso imenso naquele hospital, ela tinha este dom de me fazer rir nas horas mais impróprias. 
E dias depois ela fez a grande viagem e me deixou somente coisas boas e um imenso coração repleto de lembranças.
Para ela, eu gostaria de ter escrito uma canção, uma poesia, uma crônica e nunca o fiz, por me sentir incapaz, por travar diante do assunto.
Por isso, temos que deixar as pessoas sempre com palavras e boas lembranças, nunca saberemos à hora do nosso embarque. Peço desculpas à senhora que cedo me procurou por ter me recusado. Perdão. No momento travei.
Para reflexão, eu Termino deixando um texto da novelista Ivani Ribeiro da novela A VIAGEM.

"Hoje, de algum lugar longe dessas terras
Há um doce olhar só pra você
Um olhar especial
De alguém especial, de distantes origens
Um olhar de um justo coração que pulsa só a vida
Que sorri porque ama plenamente
Sem julgamentos, preconceitos nem prisões
Hoje, como ontem, longe desses céus
Há um encantador olhar só pra você
Nesse olhar vai para você a magia da luz
A simplicidade do perdão
A força para comungar com a vida
A esperança de dias mais radiantes de paz
Hoje, de algum lugar dentro de você,
Alguém que já o amou muito e ainda o ama
Diz para você que valeu a pena ter estado nessas terras...
Sob estes céus...
Falando de união, paz, amor e perdão
Poder sentir a força que faz você sorrir
E continuar o caminho
Que um dia aquele doce olhar iniciou pra você
Tudo isso, só para você saber que
A VIDA CONTINUA...
“E A MORTE É APENAS UMA VIAGEM.”
Mensagem final da novela "A VIAGEM", de Ivani Ribeiro, com colaboração de Solange Castro Neves, direção de Wolf Maya, Ignácio Coqueiro e Maurício Farias, direção geral de Wolf Maya.
Exibida de 11 de abril a 22 de outubro de 1994. A primeira versão foi exibida entre 1974/75.
Imagens ilustrativas extraídas do google. 
 

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