sábado, 4 de abril de 2015

CRÔNICA DA SEMANA: O ROTEIRO DA VIDA


Doutor Ary Vital com senhor Cléo Farias

Ontem, 03 de Abril de 2015.
- São 5hs40min, cadê meus óculos? Cadê meu celular.
Meio desperto, meio dormindo eu conversava comigo em pensamentos e os procurava com as mãos, dando prioridade aos óculos, pois não adiantaria achar primeiro o aparelho de celular se meus 6 graus de miopia não deixariam ver as teclas e telefonar.
- Achei.  Tomara que ela atenda.  Bom dia Mãe, já acordada ou te acordei?
- Bom dia meu filho, quantas saudades.
- Mãe, Feliz Aniversário.
- Obrigada meu filho. Você está bem?
Com uma voz suave me perguntou.
- Sim. Apenas escute o que tenho para te dizer.
Senhora Ivone preparando o 0800
De repente, não ouvia mais a voz, apenas a respiração e mentalmente o coração da primeira mulher que vi depois que nasci. Sei disso, porque ela me falou que eu demorei dois dias, quase três, para abrir os olhos, o que já estava deixando preocupada. Vovó Aída Soares teria lhe dito, para não se preocupar quando ele estiver preparado e quiser vai abrir os olhos. Dito e feito, segundo Vovó, eu estava no colo da mamãe quando abri pela primeira vez os olhos. Todos comemoraram inclusive papai soltou fogos na rua de casa e falou com o tempo: seja bem vindo meu filho! Foram duas comemorações, sendo a primeira às 0hs10min de 23 de julho de 1976.
- Mãe, muito obrigado por tudo. Por ter lutado por mim desde o ventre, pelo alimento, pelas horas sem dormir para me amamentar quando bebê e, em todas as minhas fases, pelas reclamações, puxadas de orelhas e merecidas chineladas, mas logo acompanhadas de um profundo abraço afetuoso seguido de um diálogo amigo, mostrando o que era o certo. Mãe, obrigado pelas renúncias pessoais e profissionais feitas para me educar e colocar no caminho certo. Obrigado pelos livros e por todas as vezes que segurou na minha mão para ter firmeza com o lápis e me ajudar a fazer o “A” do meu nome. Obrigado por todas as vezes que me forçou a ir para o dicionário, gramática e ao caderno de caligrafia na busca do conhecimento. Mãe, obrigado por me ensinar valores, princípios, ética e me fazer rezar e ser grato diante das dificuldades e graças alcançadas, a acreditar em Deus e que ainda há homens bons na vida e que nosso caminho somente pertence ao Criador.
- Obrigada meu filho, eu te amo.
Senhora Laci Sost
Nossa... Quanto tempo eu não ouvia um eu te amo tão verdadeiro que me fez sentir no coração.
- Meu filho, hoje é sexta-feira Santa, logo estarei indo para o Santuário, onde passarei o dia em atividades religiosas, orações, procissões, orando por você, pelo seu pai, seu irmão, por nós. Não se esqueça... Ore, limpe seu coração de todas as angustias, as tristezas, as decepções, as revoltas, deixe ele limpo, em corações sujos Deus não habita. Lembre-se disso!
- Mãe, gostaria muito de estar aí com vocês...
Logo fui interrompido...
- Ei, você escolheu estar aí. Ninguém te obrigou, por outro lado, fico aliviada por que sei que não somente eu, mas muitos de Rurópolis também te amam como filho.
Entrei no meu momento em que se chama de “um instante que não para” e muitas pessoas, fatos, situações, momentos passaram na minha mente. 
Doutor Ary com Padre Jean Paul (Pároco do município)
- Meu filho, a vida tem seu roteiro, assim como você escreve para seus personagens, a vida também se encarrega de escrever o seu próprio texto.  Te amo, até de repente.
E assim acabou nossa conversa, naquele momento. Fiquei pensando no Roteiro da vida. Tomei banho e me programei.
- São 6hs. Em pensamento eu entrei no meu rotineiro circuito fechado: Tomar banho, escovar os dentes, calçar tênis, vestir camiseta preta e short verde. Fazer exercícios matinais. Mas, ao sair...
- Bom dia doutor.
- Bom dia Diogo.
- Olha uma borboleta. Égua... Que borboleta linda. Sinal de boa sorte.
Pessoal se reunindo para a procissão
E nessa conversa de boa sorte, quando eu vi as horas já tinham passado e café já tomado. Não fui mais me exercitar. Pelo tardar da hora fui à delegacia ver se estava tudo tranquilo. Olhei a cidade e nenhuma alteração. Coração Leve e comecei a caminhar pelas ruas e avenidas. E andando, após pensar no que mamãe teria me falado sobre o roteiro que a vida procura escrever para cada um de nós, eu já estava na porta da Igreja Matriz. Entrei, limpei meu coração e orei por mim e pelas pessoas com boas e más intenções que cruzam nossos caminhos. De repente...
- Bom dia Delegado, quanto tempo, me dê um abraço aqui.
- Bom dia Sr. Cléo.
E me perdi na conversa com o marido de dona Quinha. Papo agradabilíssimo. Pessoa do bem, da paz. Não tinha outra forma a não ser deixar que aquele momento não reinasse em mim. Senti uma paz dentro da Igreja. Depois saí. O telefone toca:
Senhora "Quinha"
- Doutor, cadê o senhor homem? Tem um peixe assado aqui te esperando, onde eu deixo? Perguntava-me meu amigo Samuel, filho do Vincentinho da Cachoeira.
- Eu estou indo lá para o CTG. Deixa lá, por favor.
Mas, quando eu cheguei lá Ivone e Barbudo me receberam de braços abertos com um banquete. O telefone toca de novo.
- Doutor, cadê o Senhor? Venha almoçar comigo uma torta de Pirarucu.
Me convidava Mazinho.
- Deus do Céu. Sou muito abençoado, para quem não tinha um convite e nem programado onde iria almoçar de repente um rodízio de amigos e delícias do rio.
- Doutor. Entre naquela casinha e veja, tem surpresa lá par ao senhor.
Disse Dona Ivone.
Sem medo, entrei e PAT me deixou acariciar os seus filhotes nascidos naquele dia. Levei até uma lambida na cara como forma de carinho da Pit Bull.  Depois de um tempo saí dali e voltei andando para casa e no caminho, já dobrando a esquina, adivinhem quem me olha e ri para mim?
Doutor Ary com senhora Anna e senhora Nelsi
- Delegado, me dê um abraço.
Disse o Padre, quase irreconhecível com aquele sobreiro.
- Venha aqui, seja bem vindo.
E no meio daquele povo de Deus, encontrei tantos sorrisos, tantos abraços, tantos risos.  Ganhei até um abraço de amigo, mas abraço de amigo mesmo, daqueles que um segura o outro para não deixar o outro cair. Tudo debaixo de uma sombrinha da Dona Ana e Dona Nelsi.
- Doutor venha cá.
Outro chamado. Era a mulher do Cupuaçu, desta vez eu descubro o nome dela.
- Olá, como vai a senhora?
- Bem doutor. Feliz Páscoa.
- Perdão, mas não sei o seu nome, há tempos que quero saber, pois, a Senhora sempre me presenteia com Cupuaçu, deixando para mim na delegacia e quando procuro para saber quem deixou só tenho a notícia que a pessoa subiu numa bicicletinha e partiu.
Ela sorrindo disse:
- Doutor, meu nome é Laci Sost.
E o meu qual é? Perguntei.
- Não sei doutor.
Pronto quitei a dívida.
Brincadeira, jamais poderei quitar um carinho e um amor tão grandioso que senti naquele dia. Tantos sorrisos, tantos afetos e tanta paz.
Mamãe tinha razão mais uma vez. E ao chegar em casa eu fui nos procurar  nos meus arquivos um texto publicado na internet que certa vez li, era assim: “De vez em quando pequenas mudanças no curso de um dia, ou minúsculas alterações no trajeto da rotina podem desencadear uma seqüência de eventos que modificam tudo, como se a vida tivesse seu próprio roteiro, e você estivesse sendo empurrado por ventos fortes numa direção, escolhido para viver alguma situação”.
É isso...
BOA PÁSCOA A TODOS.  

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